Uma carta para quatro sonhadores

Olá, Luigi Cervo, Luigi Marzo, Vincenzo Ragognetti e Ezequiel Simone. Vocês não me conhecem pessoalmente e nem poderiam, afinal, estou escrevendo essa carta em 2014, com um século de distância entre os universos que vivemos. Entretanto, nessa carta, gostaria de ultrapassar a barreira do tempo e espaço para agradecê-los, onde quer que vocês estejam, por terem um sonho e por terem colocado ele em prática. Saibam que, cem anos depois, a Societá Esportiva Palestra Itália foi além do que seus sonhos poderiam imaginar e hoje mora no coração de milhões de pessoas com o nome Sociedade Esportiva Palmeiras

Eu sei que, seja lá onde estiverem, vocês sabem da magnitude do Palmeiras, mas nunca é demais relembrar. Mais do que um clube com raízes italianas que reside na Rua Turiassu, hoje, o Palmeiras é parte pertencente da cultura Brasileira, é altamente temido no continente sul-americano e possui um alcance mundial de muito respeito. Hoje é possível encontrar uma pessoa com alma palestrina em qualquer lugar do mundo. E saibam que o sonho inicial de vocês foi além, porque ser palmeirense é muito mais do que torcer para um time de futebol: é um estado de espírito indelével que vai muito além da imaginação e que hoje toca a alma e o coração de mais de 15 milhões de pessoas. 

Desde o início, ainda com vocês, tudo foi construído com sangue, suor, lágrimas e muita luta. Muitos dos nossos prosseguiram com o sonho inicial que vocês tiveram e não deixaram ele morrer quando sofremos a perseguição por ter o nome "Palestra Itália" durante a segunda guerra mundial. Resistimos bravamente, mudamos nossa nomenclatura, morremos líderes e renascemos campeões, mais fortes do que nunca. Fortes para colocar o mundo ao nossos pés em 1951, com a conquista da Copa Rio. Imponentes suficientes para termos a eterna alcunha de academia de futebol, estilo que nos colocou na vanguarda do futebol mundial.

Onde quer que vocês estejam, creio que devam ter percebido que devido ao dinamismo do mundo, muitas mudanças aconteceram nesse século de vida que possuímos. Nações cresceram e presenciaram momentos históricos, a tecnologia evoluiu de modo assustador, a velocidade da informação se tornou cada dia mais rápida e, paralelamente à tudo isso, a nação alviverde, a pátria amada Palmeiras, foi conquistando glórias e mais glórias, a ponto de ganharmos a alcunha de "Campeão do Século XX". Muitas gerações de seres humanos nasceram e morreram nesses cem anos, mas isso não nos impediu de crescer, pelo contrário, a palestrinidade iniciada por vocês foi passada por gerações, de pai para filhos, de amigos, de simplesmente sentir o amor no coração sem nenhuma explicação lógica, comparável as grandes histórias que impactaram a humanidade e que continua até os dias atuais. 

Cada sorriso de alegria de cada um de nós palmeirenses com um gol do Palmeiras, uma lágrima de felicidade (ou mesmo de tristeza) e o momento de êxtase por um título, são um testamento para tudo o que vocês construíram. Somos cada passo nas arquibancadas empurrando o Palmeiras, cada energia positiva passada de todos os lugares do mundo, somos um pedaço do concreto do Palestra Itália, nossa casa, o Jardim Suspenso que viu diversos títulos e diversos craques desfilarem talento. 

Caros Luigi Cervo, Luigi Marzo, Vincenzo Ragognetti e Ezequiel Simone, saibam que somos eternamente agradecidos pelo dia 26 de agosto de 1914 e saibam que o sonho de vocês, que completa cem anos neste mês, apenas continua crescendo. Nunca pararemos de lutar e manteremos sempre vivo aquilo que vocês construíram nesse dia glorioso.

Obrigado por tudo, o tempo e espaço não são o suficiente para me impedir de agradecê-los. Sem o Palestra Itália e, posteriormente, o Palmeiras, o mundo seria um lugar bem cinza e bem sem graça.

Assinado, um palmeirense. 

Gigantes desde o princípio.

11/07/2012 - Uma noite inesquecível

Um poster de campeão com vários jogadores indignos de vestirem nosso manto? Sim, isso foi possível na noite de 11/07/2012.

Nervosismo e ansiedade eram os sentimentos predominantes nos dias que precederam a data de 11 de julho de 2012. Insônia e taquicardia também se fizeram presentes no dias que antecederam a noite épica. O tique do relógio parecia que batia em câmera lenta e toda a distração do mundo não era suficiente para manter a cabeça longe do que aconteceria às 21h50min daquela noite.

Depois de 14 anos, o Palmeiras estava muito próximo de ser campeão da Copa do Brasil novamente e assim ratificar a condição de maior campeão nacional. Na semana anterior ao jogo derradeiro, vencemos o Coritiba por 2 x 0 no pardieiro de Barueri e assim abrimos uma considerável vantagem para o jogo da volta no estádio Couto Pereira - que os minúsculos insistiam em chamar de "green hell" (risos). Mas sabíamos das limitações do time do Palmeiras, que chegou à final muito mais pelo coração e motivação do que pela habilidade - era o pior elenco da nossa história. Por mais que o placar fosse favorável, o jogo de ida foi muito mais difícil do que o placar sugere, não dava para dizer que eram favas contadas e teríamos mais 90 minutos de muita tensão pela frente. O clima prometia ser de guerra.

A cobiça é um pecado capital, mas acredito que 15 milhões de torcedores estavam cometendo-a com a taça da Copa do Brasil. O grito de “campeão” estava entalado na garganta há muito tempo. O sensacional Paulista de 2008 foi uma alegria isolada e subsequentemente sublimada por decepções fortíssimas como o Brasileiro de 2009 e a Copa Sul-Americana de 2010. Estávamos ávidos por uma conquista que lavasse a nossa alma e nos devolvesse o orgulho de estar no topo. O título da Copa do Brasil de 2012 precisava ser de todos os palestrinos.

Foi com a ideia de que seriam 90 minutos tensos que embarquei no metrô rumo à estação Palmeiras-Barra Funda para encontrar amigos palmeirenses e assim termos uma das noites mais felizes desde que nos conhecemos em 2006 e passamos a torcer juntos. Apesar de frequentar arquibancadas desde 1999, foi a partir do ano de 2006 que ganhei grandes amigos na arquibancada, desses que podemos dizer que é para a vida também. Nem todos estavam ali, alguns conseguiram ir para Curitiba e outros assistiram em locais distintos ao que iriamos assistir.

No caminho deu para sentir a mesma tensão que eu estava sentindo em outros palestrinos que também rumava para a região da Rua Turiassu, o único lugar apropriado para que pudéssemos acompanhar esse jogo, local que abriga o Palestra Itália, de tantas glórias, histórias e que naquele momento estava passando por uma reformulação – e ainda está. Ao mesmo tempo eu via que a cidade também estava sendo pintada de verde, mais do que o usual em nossos jogos, comum em decisões do Palmeiras, algo que não deveria ser incomum nos últimos anos.

A verdade é que não tínhamos ideia de qual bar veríamos o jogo. A ideia inicial era que veríamos o jogo no L’Osteria, um reduto palestrino na esquina da Rua Turiassu com a Caraíbas, mas mesmo chegando com muita antecedência, o local já estava abarrotado e era bem possível que veríamos o jogo em pé e esmagados – para um lugar não muito grande e fechado, podemos dizer facilmente que isso não é uma boa pedida. Rechaçamos rapidamente a ideia inicial e decidimos ir a outro local. 

Depois de rodar por quase uma hora, subimos a Rua Caraíbas e fomos para a esquina da Rua Maringá com a Rua Caraíbas, na Fábrica Pizza e Bar. Chegamos por volta das 21h e ali também já estava tomado por palmeirenses. Apesar de toda a aflição que assolava a coletividade palestrina, era um clima maravilhoso, eu me senti muito bem ali. Senti-me em casa.

O fato curioso é que conseguimos uma mesa bem localizada, em frente ao telão instalado. Aparentemente estava reservada, mas quem efetuou a reserva não apareceu e assim os lugares foram cedidos para o nosso grupo - pura coincidência, mas se as pessoas chegassem, levantaríamos tranquilamente, afinal, apenas queríamos ver o jogo juntos, não importava como. Então ficamos alojados na mesa e pedi cerveja para ver se meu sistema nervoso tivesse um mínimo de relaxamento naqueles minutos que precediam a partida. Claro, nada do que eu fosse beber ali iria aliviar a tensão.

Novamente observei o ambiente ao redor e por mais que todos ali estivessem esperançosos, não era difícil deixar de notar a tensão no semblante de cada palmeirense presente naquele local. Tínhamos razões para estarmos nervosos, afinal, o time chegou a final superando diversas adversidades e mesmo no jogo final teríamos um time esfacelado, com desfalque de alguns dos principais jogadores e mais uma vez teria que jogar muito mais com o coração do que com a técnica. 

Antes de a partida começar, entoamos o hino do Palmeiras, ritual pré-jogo corriqueiro (e sempre prazeroso) para quem frequenta a arquibancada e assim que soou o apito inicial a tensão atingiu um pico acima da média. Teríamos 90 minutos para saber se gritávamos “campeão” ou se nos decepcionaríamos outra vez. A história recente nos ensinou a mantermos os pés no chão, mas aquela noite era especial, iriamos gritar “é campeão” a todo custo. Era o nosso destino.

Já no primeiro tempo era possível ver pessoas chorando de desespero, especialmente quando o Coritiba exercia alguma pressão. O inverso também ocorria e o Palmeiras criava algumas chances de perigo, em especial com cobranças de falta do capitão Marcos Assunção. Em uma jogada especial, Betinho apareceu livre e perdeu um gol feito, algo que levou os palestrinos locais a loucura. Apesar de vários arranhões, o jogo foi para a pausa com 0 x 0 no placar. Estava em nossas mãos e ainda teríamos mais 45 minutos.

Atmosfera palestrina. Era tudo nosso, não tinha jeito.

Veio o intervalo e pedi mais cervejas para mais uma tentativa de me acalmar, meu sistema nervoso já estava em frangalhos, mas conseguimos relaxar um pouco e assim me preparar para os minutos derradeiros. Não havia muitas conversas, talvez estivéssemos falando, mas não me lembro com precisão.

E não seria sem sofrimento. Antes dos 15 minutos o Coritiba foi para o tudo ou nada e Lincoln, um dos jogadores símbolos do fracasso do Palmeiras no ano anterior, sofreu falta na intermediária. O lateral Ayrton cobra com precisão e acerta a meta de Bruno. 1 x 0 para o Coritiba.

O clima no Fábrica passou a ser de consternação total. Não dava para dizer pelos outros, mas passou um filme em minha cabeça de todos os anos que tropeçamos em times insignificantes, que perdíamos para nós mesmos. E estávamos por apenas um gol, algo perigoso demais e que poderia ter consequências desastrosas caso o Coritiba se inflamasse ainda mais e o Palmeiras aceitasse passivamente o jogo deles.

Mas não era dia do Palmeiras perder o título, aquela era o nosso dia de gritar “é campeão”.

Quis o destino que o herói daquela noite fosse alguém que criticamos de maneira feroz (e bem justa, é bom que se diga) a contratação alguns meses antes. O herói que substituiu o artilheiro do time que estava acometido com apendicite. O herói que desviou o cruzamento preciso do capitão Marcos Assunção e empatou a partida no Couto Pereira. 1 x 1 e Betinho gravou seu nome na história do Palmeiras.

O Fábrica foi a loucura. O nó na garganta que tinha durante os dias que precederam se desatou e enfim desabei no choro, assim como muitos outros palmeirenses que estavam ali. Eram diversos abraços emocionados e eu soluçava, junto com outros. Eram os demônios dos anos anteriores que finalmente estavam sendo exorcizados naquela noite.

Faltavam ainda cerca de 20 minutos para o jogo terminar, mas a vantagem havia voltado para o nosso lado. Graças a regra do gol fora de casa, o Coritiba precisaria fazer mais 3 gols para se sagrar campeão. O jogo estava acabando ali e a contagem regressiva começando. 

Meu choro durou uns 5 minutos após o gol, mas na medida em que fui me acalmando, via o relógio andar e quando me dei conta, já eram 35 minutos do segundo tempo e gritos de “campeão” começavam a ecoar pelo local. Estávamos nos sagrando bicampeões da Copa do Brasil, ocupávamos nosso lugar de direito, que é de gigante e colocávamos o Coritiba em seu devido lugar, de time médio, insignificante.

Veio o apito final e de maneira legítima gritamos:

É CAMPEÃO! É CAMPEÃO!

Minha garganta já estava cortada em meio a tantos gritos, lágrimas e soluços. Em meio a tantos percalços durante a caminhada da Copa do Brasil, fomos merecedores desse título. Não éramos os favoritos da imprensa, não tivemos apoio midiático e nem transformaram nossa paixão em algo artificial. Era tudo genuíno, verdadeiro e feito com muito amor. E veio com diversos contratempos, que só engrandeceram a nossa conquista.

A comemoração prosseguiu noite afora. Hasteamos as bandeiras que tínhamos ali e descemos a Caraíbas rumo a Turiassu gritando “é campeão”. Um orgulho resgatado e a cidade novamente estava pintada de verde.

Infelizmente, esse título não foi o suficiente para que o restante do ano fosse de alívio, as deficiências latentes do elenco, somadas com a incompetência crônica dos que comandavam o Palmeiras nos levaram para uma triste queda vertiginosa rumo à segunda divisão. Mas independente do que aconteceu ou do que acontecerá, guardarei sempre com carinho esse título de 2012.

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Escrevi esse texto em 2013 para meu blog pessoal, um mês antes de inaugurarmos o Palestra em Campo. Como é um texto atemporal sobre a memória de uma noite inesquecível, resolvi reproduzi-lo aqui para o palestrino que lê nesse espaço. Sei que cada palestrino que vivenciou essa noite tem uma história para contar, essa é a minha.


O grande responsável por esse título tem nome: Luis Felipe Scolari. Especialmente no jogo contra o Grêmio, no Olímpico, ele foi o comandante de mata-matas que conhecemos na década de 90 e fez o Palmeiras (ainda que por algumas noites) ser temido como sempre conhecemos. Nesse momento presente ele pode estar sendo massacrado por diversos setores da mídia pelo desempenho da seleção na Copa do Mundo (algo que, sim, ele também tem culpa) e mesmo por palmeirenses que o culpam pela queda para a segunda divisão (algo que ele também tem sua parcela de culpa, mas não é o único), mas aqui separo o joio do trigo e demonstro minha gratidão por esse momento que ficou para sempre. O grito de campeão é algo que não consigo apagar, ainda mais quando antes desse título, o comandante estava lá em outras conquistas. Felipão, obrigado por esse título improvável.


Aos palestrinos que conseguiram ir à Curitiba: fizeram uma festa linda e calaram aquilo que chamavam de "green hell" (risos). Ver o estádio deles vazio com apenas os palestrinos comemorando foi sensacional, obrigado e parabéns.

A relação torcida-ídolos II

Em outubro do ano passado escrevi um texto ressaltando a importância dos ídolos no Palmeiras, mas que poderia se aplicar também aos outros clubes se não tivesse um foco específico em jogadores palestrinos. No texto em questão, a preocupação que os grandes ídolos e os jogadores decisivos estavam rareando cada vez mais, a ponto de quase desaparecerem por completo. 

No despertar da derrota acachapante do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo (algo que queiram ou não, afeta os clubes locais por extensão, desmoraliza até os clubes mais vencedores do país, inclusive o Palmeiras), devaneei e tentei entender um pouco mais das razões que levaram os jogadores brasileiros a fazerem uma Copa ruim e terminarem de maneira melancólica. Não é de hoje que faltam atletas com aquela fome de se consagrar, de ídolos que batam no peito, peçam a bola e resolvam. Em suma: faltam homens no futebol brasileiro.

Em meio aos devaneios, tentei achar um ponto de partida e me veio uma fala (quase um ensinamento) de Don Vito Corleone, o mafioso patriarca interpretado brilhantemente por Marlon Brando no filme "The Godfather" (1973), onde ele dizia que um homem precisa amar e respeitar a sua família acima de tudo. Não foi difícil traçar um paralelo com a relação entre jogadores e clubes (e sua torcida) e notar que hoje é difícil ver os jogadores criando laços com os clubes. Pior, a grande maioria dos jogadores não respeitam a camisa que vestem e agem como moleques em busca de interesses, muitas vezes tratando um time com história como trampolim. O que mais vemos nos dias atuais são jogadores medíocres agindo como primadonas e exigindo salários altíssimos por um futebol que eles não tem. 

Além dos jogadores fracos de espírito que desprezam os clubes, o próprio sistema do principal campeonato nacional fez questão de extinguir o surgimento de jogadores decisivos e heróis que estão acostumados com decisões. Considero o sistema de pontos corridos uma estaca no coração do futebol brasileiro, pois além de afastar a torcida e a emoção inerente as grandes decisões, deu privilégio ao futebol estéril, sem emoção alguma e que tem como mote uma "justiça" que inexiste. Para se ter ideia do poder de uma decisão de campeonato, a última final de Brasileiro que tivemos gerou jogadores que deitaram nos louros daquela decisão por quase uma década, como Elano, Robinho e Diego (ainda que o futuro provasse a mediocridade e a falta de decisão desses, muito porque eles eram moleques e não homens). 

E, claro, não houve uma transição decente de gerações. Se em 2002 era fácil identificar jogadores vencedores - a base do time que venceu o pentacampeonato era repleta de palmeirenses que venceram quase tudo nos anos 90 -, hoje você olha, olha e nada. Em 2002 o Brasil tinha justamente o que faltava nos parágrafos anteriores: jogadores acostumados com decisões, homens que respeitavam os clubes e eram identificados com suas torcidas. E a formação dessa nova geração passou por revelar jogadores covardes e fracos de espírito. Não há um meia que chame a responsabilidade e orquestre as jogadas e também não há atacantes com aquele faro de gol e aquela vontade de aniquilar o inimigo. 

Repito, faltam homens e jogadores acostumados com decisões. E a gravidade disso é enorme, basta olharmos para o nosso camisa 10 atual (Valdivia), que é o jogador que mais foge de jogos decisivos (fora o rebaixamento) e ainda assim possui uma legião de fãs que o defende com unhas e dentes - simplesmente porque não há meias com características similares no país. Por isso que nos apegávamos fortemente na torcida para a volta do Alex, último grande ídolo em atividade e que, mesmo com lesões, ainda fazia um campeonato decente, por isso superestimamos jogadores que possuem algum potencial para se tornar ídolo e nos decepcionamos (e tivemos muitos casos recentes). Tudo errado e ontem tudo isso fez sentido.

Mesmo eu (Marcus), que tinha uma postura neutra em relação a seleção brasileira (apenas assisti e ponto), me senti chocado com tal placar, porque afeta também o Palmeiras e nos faz refletir como chegamos a esse ponto. Que todos tenham a humildade de admitir que o Brasil há muito tempo não é o país do futebol (em quase todos os aspectos) e que recomeçar do zero é o melhor que se pode fazer. 

O exemplo máximo de ídolo: jogador homem, decisivo e que ama a camisa.

Bons jogos em campanhas ruins II

Ou, o dia que não achamos água no Palestra.

Uma das cenas mais comuns em arquibancada é você estar de pé, compenetrado na partida, e um vendedor de água esbarrar em você de maneira despretensiosa. Você rapidamente pensa “cazzo”, mas a pessoa passa, você pensa "beleza, está apenas fazendo seu trabalho" e continua prestando atenção no que ocorre em campo. 

Porém, a natureza nos presenteia com seletos dias de jogos em que o aquecimento global resolve castigar pra valer os torcedores. Nessas situações costumamos nos desesperar por um mísero copo de água e ignoramos até mesmo os preços inflacionados que a organização do jogo nos impõe – especialmente nos últimos anos. Por via de regra (da natureza), os meses de outubro são líderes no quesito secura de temperatura. E se soubéssemos o perrengue que passaríamos naquelas 16h de sábado, do dia 05/10/2002, certamente teríamos bebido o equivalente a um poço artesiano antes do jogo. 

Ainda sobre perrengues e securas, o jogo em questão era contra a Portuguesa no Brasileiro de 2002, já na metade final da fase de classificação. Apesar de virmos de uma vitória suada contra o Paysandu e dois empates razoáveis em clássicos – sendo que contra o Santos fomos roubados -, o clima era de total desespero. Éramos lanternas do campeonato e antes desses jogos passamos por uma vergonhosa sequência sem vitórias e com vexames homéricos mesmo dentro do Palestra. O rebaixamento era uma realidade dura que batia na porta com a força de um mastodonte e não queríamos acreditar de maneira alguma que isso fosse verdade.

E era uma situação nova. Apesar do Palmeiras ter claudicado em 2001, ainda vimos o time brigar pelo título da Libertadores. Em 2002, 3 anos depois do Palmeiras ter vencido a Libertadores, estávamos em um inferno que não imaginávamos. O baque foi muito maior do que em 2012.

Mas nesse dia estávamos confiantes de que ainda esboçaríamos uma reação e esse jogo acendeu uma centelha de confiança na torcida. A classificação para o G8 já tinha naufragado por completo naquela altura do campeonato, mas a esperança de terminar o ano sem vexames - leia-se, sem cair - ainda era grande, tanto que naquela calorosa tarde de 05/10 havia mais de 22 mil pessoas esperançosas pelos 3 pontos.

Embalados por essa confiança, o Palmeiras abriu o placar cedo com Juninho, uma meia atacante esquecível, mas que fazia alguns gols improváveis no período entre 2000 e 2002 - e que depois fez muito sucesso no Japão. Ainda no primeiro tempo o Alex Alves (não aquele que falávamos “ai que bom seria...”) empatou a partida e o desespero voltou a tomar conta da arquibancada. 

Na mesma proporção que o medo da torcida crescia, o calor assolava os torcedores impiedosamente e nenhum vendedor de água passava. Algo bem estranho, já que eles possuem o hábito de esbarrarem em mim nas horas mais improváveis. 

Veio o intervalo de jogo e com ele a esperança de que algum vendedor de água passasse por ali e aliviasse a sede que crescia cada vez mais, mas inacreditavelmente não passou nenhum. Fomos para o segundo tempo com medo de desidratar.

Sobre o time, o intervalo serviu ao menos para reanimar a torcida, que mais uma vez estava apreensiva depois de um empate sofrido, sabíamos que muitos jogadores não estavam nem ai com nada e outros se perdiam no desespero. A esperança de reação para o segundo tempo residia no retorno do Pedrinho, um resquício de talento que estava a um ano parado depois de uma lesão grave, mas que por alguma razão, o Levir Culpi preteriu ele para o restante do torneio, mesmo recuperado.

O calor não passava e no segundo tempo minha sede só ia crescendo. Simultaneamente, a pressão que o Palmeiras exercia em campo também crescia, especialmente depois que o Levir colocou Pedrinho e Nenê (que fez sucesso na França, mas jamais deve pisar no Palestra novamente). De tanto martelar, o Palmeiras achou um gol em um escanteio magistralmente cobrado por Arce (sempre ele) e uma cabeçada precisa do Alexandre Rebaixador. 2 x 1.

Gritei a todos pulmões, do alto do fôlego que um garoto de 14 anos possuía e esqueci por momentos que minha boca estava seca e que estava começando a ficar tonto de tanto calor que sentíamos. 

Felizmente, o gol trouxe tranquilidade para o estádio e para o time. E mesmo assim, nada de aparecer um vendedor de água, mas como a alegria naqueles minutos estava alta, conseguimos eclipsar a sede.

Assim que acabou o jogo, a ideia era sair o mais rápido possível do estádio para beber qualquer coisa que fosse. Acredito que não era o único morrendo de sede, no fosso, saindo pela Turiassu, nos deparamos com diversas pessoas formando uma fila para beber água de uma torneira que estava solta, bem perto das numeradas. Ainda no fosso, outro fato curioso aconteceu: Alexandre Rebaixador apareceu e foi cumprimentar a torcida. Naquele dia ele salvou à tarde, estava com certa moral e até mereceu os aplausos.

Chegando à Turiassu, bebemos água como se não houvesse amanhã e rumamos para a casa esperançosos de que o time engrenasse de vez. Como todos sabemos isso não aconteceu, assim como nunca mais passamos perrengue no que tange “água no estádio”.

Quanto ao jogo em si, foi uma bela partida em meio a um campeonato desesperador. Um jogo que renovou a já abatida torcida em uma temporada capenga onde tudo dava errado. Mas não foi "o ponto de virada", afinal, na rodada seguinte perdemos para o Goiás e continuamos em situação bem difícil. 

Arce, assim como São Marcos e Zinho, são vencedores e mereciam muito mais do que aquela temporada maldita.
Foto: Ari Ferreira

Bons jogos em campanhas ruins

Inaugurando a série "bons jogos dentro de campanhas ruins", começarei com um clássico: Palmeiras 3 x 1 Santos, no Paulista de 2005.

O ano de 2005 (assim como quase toda a década passada) não foi bom para o Palmeiras. No segundo semestre até tivemos um período efêmero no qual sonhamos com o título do Brasileirão, mas no fim tivemos que nos contentar com o "prêmio de consolação" que foi a vaga para a Libertadores - conquistada de maneira muito digna, diga-se de passagem. 

O primeiro semestre desse ano foi horrível. Passamos sufoco na Libertadores em um grupo fraquíssimo e sequer passamos perto de lutar pelo título Paulista. Três técnicos passaram pelo comando do Palmeiras, todos muito ruins: Estevam Soares, Candinho e Bonamigo. Para piorar, a fórmula do Paulistão dessa temporada era de pontos corridos, o que desestimulou a torcida de um jeito que poucas vezes tínhamos visto anteriormente. Já antes da metade do torneio, não raros, já era possível ver públicos que não passavam de 4 mil pessoas no Palestra - ainda nesse torneio tivemos o jogo Palmeiras 1 x 0 Barbarense com 1600 pagantes, o pior público que já vi no Palestra. É seguro dizer que esse foi o pior campeonato de todos no quesito "engajamento da torcida" e que pontos corridos é uma praga que deveria ser abolida de vez (esse texto excelente do Forza Palestra pega na veia).

Apesar de começarmos esse campeonato com 3 vitórias seguidas, sequer passamos perto de brigar pelo título e morremos na metade da tabela. Nem dava para culpar a torcida pela falta de ânimo.

Na metade do campeonato e na expectativa por mais uma volta de Pedrinho, iriamos encarar o Santos do badalado Robinho, colocado pela imprensa como amplo favorito para o confronto, algo que nem nós, cientes do elenco ruim que tínhamos, conseguimos discordar na época. Mesmo assim rumamos para o Palestra naquela tarde ensolarada de domingo, típica de um início de março, acreditando que poderíamos fazer algo diferente do que fazíamos até então. Era dia de jogar como Palmeiras.

E jogamos como Palmeiras. Não aquele que nos envergonhava naquela temporada, mas como o alviverde imponente que todos temiam.

Três nomes foram fundamentais para a vitória por 3 x 1: São Marcos, o que não é nenhuma surpresa; Pedrinho, que entrou no segundo tempo e foi o nome do jogo; e Lúcio (o quarto melhor lateral do mundo), esse sim, surpreendendo, afinal, foi o nome mais xingado nas arquibancadas durante a temporada anterior - um ódio um tanto quanto estranho, afinal, tinham jogadores piores do que ele naqueles elencos irritantes.

O primeiro tempo foi de São Marcos, que brilhou sozinho e aliviou a barra da defesa ruim composta por Glauber, Daniel e Nen, zagueiros que deixaram muitos espaços para Robinho e Deivid (que na época não era motivo de piada). Por conta do bombardeio litorâneo, ficamos até um tanto surpresos por irmos para o intervalo vencendo por 1 x 0, gol de Daniel ao final do primeiro tempo.

No intervalo meu pai comentou comigo que estávamos no lucro com aquela vitória parcial e que se a defesa continuasse desse jeito teríamos problemas. Não deu outra. Glauber, fez um pênalti idiota e Ricardinheirinho fez o gol de empate dos sardinhas. Nosso ânimo voltou ao modo standart daquela temporada. E São Marcos continuou nos salvando.

Eis que Candinho, em um raro arroubo de inteligência enquanto estava em nossa casamata, colocou Pedrinho em campo. O reizinho mal tinha entrado em campo e já em uma de suas primeiras jogadas recolocou o Palmeiras na frente. Com o placar ainda na contagem mínima tudo poderia acontecer, mas Lúcio fez um lançamento primoroso para o mesmo Pedrinho, que entrou na área e fuzilou o goleiro santista. 3 x 1 e fim de conversa.

Na hora, fizemos a mesma pergunta de sempre: "como seria se o Pedrinho não se machucasse tanto?". Tratava-se de um meia genial, capaz de decidir partidas com toques de classes e tinha tudo para se consolidar como um dos maiores camisas 10 da história do Palmeiras, mas padeceu com diversos problemas físicos que limitaram muito a presença dele em campo. E demonstrava ciência de seus problemas, afinal, chegou a pedir para não receber salários enquanto estava machucado. Talvez se vencêssemos o Paulista de 2004 ele teria um papel mais marcante em nossa história. 

Sobre o jogo em si, nos deu um curto ânimo para o jogo seguinte (vencemos o Táchira por 3 x 0 na Libertadores), mas não demorou muito e uma derrota para a Portuguesa nos devolveu a triste realidade daquela temporada maldita. 


Nova revisão no elenco

Pela terceira Copa do Mundo seguida que agradecemos a longa pausa que o torneio proporciona para correções de rota. Na primeira, a pausa foi vital para fugir da degola, na segunda, aguardávamos a readaptação de Felipão para que ele pudesse enterrar de vez o ano de 2009 e dessa vez, em situação similar à de 2010, aguardamos a adaptação de Gareca e a chegada de reforços para posições carentes do elenco para que o time saia da metade da tabela e brigue pelos títulos de 2014 enquanto há tempo.

Esse "checkpoint" nos permite uma nova reanálise do elenco para a metade final do primeiro turno. Hoje, estamos a seis pontos do líder Cruzeiro - perder para Chapecoense e Botafogo atrapalhou muito nossos planos. Vamos ao desempenho de cada atleta e o que é necessário em cada posição:

Goleiros:

Ao que parece, voltamos a ter uma certa tranquilidade nessa posição. Prass se contundiu novamente, mas Fábio assumiu bem a posição e ganhou a confiança da torcida. Bruno, por sua vez, jogou apenas meio tempo e foi um dos responsáveis pela derrota ante ao Flamengo. Preterido, Bruno deve sair de vez.

Fernando Prass (20 jogos) - Continua sendo um dos líderes do elenco e o capitão desse time. Se contundiu na partida contra o Flamengo e deixou a torcida consternada, mas em forma e livre de contusões é uma muralha que confiamos até de olhos fechados. Titular absoluto, mesmo com a ascensão de Fábio.

Bruno (4 jogos) - Finalmente a era dele terminou no Palmeiras. Não passa confiança para a defesa, não intimida o ataque adversário e passa muito medo para a torcida. Já anunciou que não pretende continuar, mas sempre respeitou o Palmeiras, então, boa sorte para o torcedor Bruno, mas longe da nossa meta.

Fabio (8 jogos) - Chegou a vez de Fábio. Com a contusão de Prass e com Bruno caindo em desgraça definitiva, coube ao outro oriundo da base a missão de proteger a meta. Os esquemas "kleinisticos" (que persistiu com Alberto) baseado em improvisos deu a chance de Fábio brilhar, garantindo pontos importantes para o Palmeiras nesse campeonato, especialmente contra o Vitória. Com ele de opção, já podemos ficar mais tranquilos em relação a nossa meta.

Vinicius (0 jogos) - Atual terceira opção, provavelmente não o veremos esse ano.

Laterais:

O nosso lado direito continua sendo um dos pontos fracos do elenco e a luz vermelha pisca desesperadamente clamando por reforço nessa posição, ninguém aguenta mais o Wendel. Na esquerda, Juninho enfim perdeu seu lugar e William Matheus assumiu a posição de maneira satisfatória.

Wendel (24 jogos) - Não dá mais. Desde 2007 ele mostra que não serve para a posição e desde então nos irrita. Quando achamos que ele saiu de vez, ele ressurge e volta a nos irritar. O apoio dele é deficiente e a defesa está pior do que nunca. Não serve nem para a reserva, mas atualmente é titular absoluto.

Juninho (21 jogos, 3 gols) - Até fez bons jogos na temporada, mas voltou a mediocridade habitual no Brasileirão e finalmente perdeu espaço para William Matheus. Anunciou que não quer mais jogar aqui, mas se reapresentou com o elenco e por isso colocamos ele na análise. Imaginamos que será uma surpresa se entrar em campo novamente com a camisa verde. Vai tarde, Pampers.

William Matheus (11 jogos, 1 gol) - Se no Paulistão ele foi reserva com um desempenho apenas "ok", no Brasileiro assumiu a titularidade e fez boas partidas, estando seguro na defesa e apoiando de maneira mais incisiva do que o antigo camisa 6.

Victor Luis (3 jogos) - Entrou como substituto em um jogo que pouco valia no Paulista e apareceu novamente por mais duas ocasiões no Brasileiro. Novamente, não deu para observar nada, mas continua disponível no elenco.

Recentemente tivemos a notícia que os jovens Leo Cunha (lateral direito) e Matheus Muller (lateral esquerdo) foram incorporados ao time profissional por Gareca. Vamos torcer para que nas mãos de nosso novo comandante - famoso por usar bem as categorias de base - os novos jogadores cresçam e se tornem opções úteis para o plantel.

Zagueiros:

E o xerife segue firme.
Foto: Jardel Costa/Futurapress

E a saída do Henrique foi mais sentida do que esperávamos. O zagueiro que hoje está disputando a Copa com a seleção brasileira deixou uma lacuna que não foi preenchida no primeiro semestre, tanto que em muitos jogos tivemos Marcelo Oliveira improvisado e o resultado foi desastroso - sofremos dez gols no brasileiro até o momento. A chegada do argentino Fernando Tobio, oriundo do Velez Sarsfield e com boas referências anteriores, pode ajudar a recomposição da defesa.

Lucio (28 jogos, 1 gol) - Apesar de ter apenas 28 jogos com a camisa do Palmeiras, o histórico vencedor, sua vontade de continuar vencendo e sua liderança o coloca no patamar dos atletas mais confiáveis do elenco. Foi o segundo jogador que mais disputou partidas nessa temporada (atrás apenas de Marcelo Oliveira) e foi um dos raros focos de segurança do time no vão que separou o início do Brasileiro e a parada da Copa. Titular absoluto.

Tiago Alves (11 jogos) - Homem de confiança de Kleina, mas que não convence mais a torcida. Caiu em desgraça após exibições ruins e nunca mais foi escalado após a saída do treinador pastelão, sendo deixado de lado até pelo improvisado Marcelo Oliveira. Ainda está no elenco, mas deve sair.

Wellington (10 jogos) - Apesar de ter iniciado bem essa temporada, estranhamente ficou de fora de muitos jogos, sendo preterido por Marcelo Oliveira improvisado. Quando o volante voltou para a posição de ofício, Wellington foi escalado e não foi mal. Estranho. Mas serve como opção.

Victorino (nenhum jogo) - Ainda não jogou. É seguro dizer um "fora" bem sonoro, afinal, como confiar?

Thiago Martins e Gabriel Dias são os que vieram da categoria de base e também não disputaram nenhuma partida nessa temporada. O primeiro se recupera de cirurgia e o segundo foi bem nas categorias de base e esperamos vê-lo em campo nas mãos de Gareca.

Volantes:

Outro que não sabemos qual que é.
Foto: Cesar Greco/Foto Arena

Era uma posição que não inspirava preocupação, mas no Brasileiro percebemos que devemos nos preocupar sim. Os nomes atuais tiveram um desempenho bem aquém do que gostaríamos e nos perguntamos quem viria para essa posição. França, que teve um desempenho razoável no Paulista e despontava como o melhor atleta da posição, saiu sem maiores explicações - deve ter acontecido algo muito sério, porque o futebol mostrado não foi ruim.

Marcelo Oliveira (29 jogos) - Marcelo Oliveira foi o jogador que mais atuou pelo Palmeiras nessa temporada - e isso não é um ponto positivo. Enquanto volante, fez sua função sem maiores problemas, mas na maior parte do tempo foi improvisado na zaga, tendo um desempenho muito abaixo da média e sendo responsável por muitos gols devido a sua lerdeza. É carismático e possui empatia graças a presença constante na TV Palmeiras, mas isso não é o suficiente para lhe garantir um lugar no time titular. Se muito, deve ser apenas opção no banco.

Eguren (10 jogos, 1 gol) - Entre a pausa pós-eliminação do Paulista e a parada da Copa, Eguren não realizou nenhuma partida. Seja por escolha do ex-treineiro por Josimar ou seja por estar concentrado com a seleção uruguaia. Apesar de cumprir sua parte com correção, nunca engrenou por aqui. Veremos se continua para o segundo semestre com Gareca ou se sairá de vez. Vendo as opções atuais, deve ficar.

Wesley (22 jogos, 4 gols) - Uma das peças remanescentes da espinha dorsal imaginada no início da temporada, Wesley teve uma queda brusca de rendimento durante o Campeonato Brasileiro, fazendo exibições bem abaixo do que já o vimos fazer e, por vezes, demonstrando empáfia em campo. Não sabemos se é a indecisão sobre permanecer no Palmeiras ou algum outro problema, mas do jeito que jogou essa temporada não dá. Gareca tem que chamar ele de canto e perguntar o que ele quer da vida.

Bruninho (1 jogo) - Jogou apenas uma partida e improvisado. Por ser constantemente preterido, dá para questionar a presença dele no elenco e o porque de ter sido contratado inicialmente.

Renato (10 jogos) - O volante Renato, outro oriundo da base, assumiu a posição de primeiro volante, mas seu desempenho não enche os olhos. Por muitas vezes ficou visível falhas na cobertura e a deficiência na saída de bola. Serve para compor elenco e só.

Josimar (8 jogos) - Uma das piores invenções de Kleina - e isso não é pouca coisa. Foi muito mal em todas as partidas disputadas e já desponta como forte candidato a ser lembrado como um dos piores volantes que já passaram pelo Palmeiras. Tem que voltar para o Inter correndo.

Meias:

Então Valdivia, decidiu o que quer da vida? 
Foto: Leandro Martins/Futura Press/Agência Estado - G.E.

Outra posição que precisamos analisar com mais carinho. Com Valdivia em campo, nossa armação é boa, mas como a presença dele não é constante, ficamos com problemas. De positivo, apenas a troca do péssimo Serginho pelo interessante Bernardo. Mas ainda é pouco. Caso Valdivia saia de vez, precisamos com urgência de um camisa 10 que orquestre as jogadas de ataque.

Valdivia (16 jogos, 4 gols) - Tecnicamente falando, é o craque do time e até jogou com mais frequência nessa temporada - algo que não aconteceu em quatro anos. Atualmente, está disputando a Copa do Mundo pela seleção chilena (o que talvez explique essa alta frequência), mas ninguém sabe se voltará para cá. Se voltar, que seja o Valdivia de 2014, constante e um dos líderes do time, mas tem que ver a motivação dele para o restante da temporada e se dá para confiar. Por tudo o que aconteceu nos últimos quatro anos, é difícil de confiar no atleta caso permaneça.

Mendieta (19 jogos, 3 gols) - Com a ausência de Valdivia (na Copa), Mendieta foi alçado para a condição de titular como meia-armador - algo que ele não é. Já havia demonstrado alguma qualidade em jornadas anteriores, mas está sendo queimado em fogo brando ao jogar em uma posição errada. A despeito da falta de mobilidade e de uma certa lentidão, como camisa 11 e puxando a marcação, já funcionou bem ao lado de Valdivia.

Bruno Cesar (11 jogos, 2 gols) - Uma pena que não vingou. Veio com badalação no início do ano, demorou para melhorar a forma física e se contundiu na primeira partida do time no Brasileiro. Ainda tem contrato até o fim do ano e pode mostrar alguma coisa na armação de jogadas. Seu conhecido arremate de longa distância também não foi utilizado nesses jogos que atuou. Veremos como Gareca o utiliza, mas pelo que mostrou até agora, não empolga.

Bernardo (3 jogos) - Contratado por empréstimo junto ao Vasco, Bernardo é uma bomba-relógio no elenco. Com bom chute e alta capacidade para chegar ao ataque, em outros clubes demonstrou habilidade de sobra para assumir a titularidade de qualquer clube grande, mas ao mesmo tempo mostrou ser um fio desencapado pronto para criar problemas. Até o momento, fez apenas 3 partidas, todas como substituto e em todas o time não demonstrava querer mais nada na partida, o que não dá para culpá-lo. Vamos torcer para que o sangue palestrino de sua infância fale mais alto e ele alie juízo com boas partidas.

Marquinhos Gabriel (19 jogos, 2 gols) - Também contratado esse ano, Marquinhos Gabriel tem a tendência de puxar as jogadas para as pontas, as vezes até fazendo o papel de segundo atacante. Com a ausência de meias, Marquinhos Gabriel foi bastante utilizado como titular e teve atuações oscilantes. Precisa ser mais regular e objetivo.

Felipe Menezes (9 jogos, 1 gol) - Achávamos que ele estava fora de vez, mas nos últimos jogos antes da Copa ele reapareceu. Até fez alguns bons passes e uma boa partida contra o Grêmio, mas seus chutes tortos irritam qualquer um. Se ficar, deve ser a última opção e olhe lá.

Mazinho (13 jogos, 1 gol) - A volta dele para o plantel foi outra invenção errada de Kleina. Apesar de ainda ter entrado como substituto por algumas partidas no Brasileiro, a sua presença no banco já é um indicativo de que as coisas estão erradas.

Outro jogador que subiu da base a pedido de Gareca foi o meia Juninho, que mostrou alguma habilidade nas categorias inferiores.

Atacantes:

O atual titular do ataque. Começou bem, mas será que é sempre assim?

Continua sendo uma posição muito carente. Perdemos um centroavante que era acima da média para nossos inimigos e ele não foi reposto - Henrique é apenas substituto. A posição de segundo atacante teve seus bons momentos com Diogo se firmando de titular.

Henrique (9 jogos, 5 gols) - Iniciou sua jornada com uma incrível média de 1 gol por jogo nos primeiros 4 jogos, mas assim como o restante do time, o "ceifador" perdeu o fôlego nos jogos finais do período pré-copa. Mostrou alguma estrela, um chute potente e um posicionamento correto, mas não tem tanta habilidade assim para fazer um pivô. Como opção é excelente, mas não pode ser considerado titular.

Leandro (18 jogos, 3 gols) - Continua sendo a maior decepção da temporada até o momento. Não dribla, não arrisca jogadas, não tabela e não arremata para o gol de maneira decente. E já o vimos fazer todos esses itens. Veremos se Gareca o recupera ou se ele vira banco de modo definitivo.

Diogo (15 jogos) - Assumiu a titularidade e vem se mostrando um dos jogadores mais voluntariosos do elenco nessa temporada. Além de saber o que faz com a bola nos pés quando está fazendo o papel de segundo atacante, ainda tem disposição para defender quando necessário. Fica a torcida para que as lesões que o atormentaram no Campeonato Paulista tenham ficado para trás em definitivo.

Patrick Vieira (8 jogos, 1 gol) - É um jogador intrigante, pois joga pelas laterais e tem habilidade suficiente para ser aproveitado como quarto meia ou segundo atacante, mas mesmo com contrato renovado, continua de fora do time. Talvez tenha vida nova com Gareca, vale a observação.

Chico (2 jogos) - Nas categorias de base foi bem em 2013, mas só agora foi incorporado ao grupo profissional do Palmeiras. Não teve tempo para mostrar muita coisa, mas na base mostrou ser um bom segundo atacante que descia bem pelas laterais do campo.

Miguel (4 jogos, 1 gol) - Ainda está no elenco, mas é estabanado, mal posicionado e mostrou que não serve. Deve sair.

Rodolfo (3 jogos) - Outro que pouco jogou e nada mostrou, sendo difícil de analisar.

O atacante Erik, outro oriundo da base, foi alçado ao profissional a pedido de Gareca.

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Precisamos com urgência: 
- Lateral direito que venha para ser titular;
- Zagueiro reserva;
- Segundo volante que saia para o jogo;
- Meia-armador titular
- Centroavante titular;

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Atual time-base: Fernando Prass, Wendel, Lucio, Fernando Tóbio, William Matheus; Marcelo Oliveira (Eguren), Wesley, Bruno Cesar e Valdivia (Mendieta); Diogo e Henrique.

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Agradecemos novamente ao sempre excelente Porcopedia pelo acervo de informações onde foi possível consultar o número de jogos e gols de cada atleta nessa temporada.

16/06/1999 - 15 anos da Libertadores

São Marcos, Arce (Evair), Júnior Baiano, Roque Júnior e Júnior; César Sampaio, Rogério, Zinho e Alex (Euller); Paulo Nunes e Oséas. Técnico: General Scolari. Isso sem contar outros que também fizeram parte da campanha, como Clebão, Galeano, Tiago Silva, Rubens Junior, Jackson, Velloso e outros. Heróis de um dos nossos maiores títulos da história - em alma, só perde para o Paulista de 93.

Aliás, alguns dos heróis de 1993 estavam lá e foram importantes, como Evair, que mesmo com a carreira se aproximando do final, ainda anotou um gol na final, como Zinho, titular absoluto e um dos líderes da equipe e, claro, César Sampaio, o capitão que levantou a taça da América.

Todos os jogos nessa campanha foram inesquecíveis, mas além da final, o que mais guardo na memória é a partida de volta contra o River Plate, os 3 x 0, o melhor jogo de um dos melhores camisas 10 de nossa história, o excelente (e o único desse time ainda em atividade) Alex. Ele fez chover naquela noite, fez uma das melhores partidas que vi um meia fazendo na minha vida.

Na verdade, não tenho palavras para descrever esse título, nada do que eu escreva fará justiça. Por isso fico com esse texto curto, e uma imagem que fala por si só. E claro, meu agradecimento eterno para todos os responsáveis por essa glória.

Em 16 de junho de 1999, há 15 anos, vocês pintaram a América de verde e branco pela primeira vez.

Heróis!

O grande herói!

O dia que vi o único gol do Armeration pelo Palmeiras

Ou, as histórias do Armero também envolvem muitos dias de chuva.

O carismático lateral esquerdo colombiano Pablo Armero está em estado de graça e não poderia ser diferente, afinal, marcar gol em uma Copa do Mundo é uma emoção diferente, um sentimento que poucos jogadores tem o privilégio. Ainda mais quando a Copa em questão é uma das mais empolgantes da história - definitivamente, a melhor que vi, pelo menos até o momento.

Ao mencionar o Armero, a torcida palmeirense e a imprensa rapidamente voltam a memória para uma cena: a insólita dança conhecida como "Armeration" (alusão ao bisonho hit de verão do ano de 2010 conhecido como "Rebolation") após o gol de empate no épico 4 x 3 que o Palmeiras aplicou no Santos do ascendente Neymar e o consolidado Robinho, na Vila Belmiro. Esse foi um dos raros jogos da péssima temporada de 2010 que lembramos com carinho. Também parecia que esse jogo seria o ponto de virada após a hecatombe sofrida ao final de 2009, mas ficou só na impressão mesmo.

Graças a esse gol do Armero na Copa, alguns amigos se empolgaram e disseram que ele foi queimado por aqui e outros se empolgaram ao ponto de pedir a volta dele de maneira séria. Eu discordo de todos eles, afinal, a minha memória da passagem dele por aqui não foi das melhores. De fato, a única coisa que diferencia ele de um Lúcio (o 3º melhor lateral do mundo) e o Leandro Bochecha, é o excesso de carisma. 

Armero desembarcou na Rua Turiassu em janeiro de 2009 substituindo Leandro, citado no parágrafo anterior. Fez uma boa estreia em uma terça chuvosa no Palestra Itália, contra o Marília (jogo que me lembrarei mais do Lenny desencantando após um ano na seca). Mesmo com um campo encharcado que era prejudicial para o jogo dele, a impressão inicial foi boa e não demorou para ele assumir a seis em definitivo e ser o lateral de confiança na Libertadores daquela temporada. Tinha a tendência de tomar as decisões erradas e muitas vezes saía com bola e tudo, mas ainda não comprometia a defesa com suas descidas kamikazes. 

Após a eliminação da Libertadores, o Palmeiras voltou todas as atenções para o Brasileirão e Armero não convencia de um jeito pleno, continuava irregular e matando diversos ataques. Até que em outro dia chuvoso, na décima rodada do Brasileiro, o Palmeiras enfrentou o Náutico, visando entrar no G4 e se manter no pelotão de frente (ao final da rodada, terminaríamos à dois pontos do então líder Atlético-MG). A tarde chuvosa, o frio de julho e a recém-eliminação da Libertadores espantou a torcida (menos de 8000 foram ao Jardim Suspenso), mas o Palmeiras fez uma ótima exibição.

O placar foi construído com muita facilidade. Mauricio Ramos fez o primeiro, Willians o segundo. O Nautico até diminuiu, mas no segundo tempo, Armero fez uma tabela com Diego Souza e acertou um petardo cruzado sem chances de defesa para o goleiro do Nautico. Um golaço solitário na carreira de Pablo Armero pelo Palmeiras - isso, claro, sem contar o pênalti anotado na disputa contra o Sport pela Libertadores. O guerreiro Pierre ainda fechou o placar naquela noite fria. Uma noite que me lembro como a do gol solitário de um lateral que nem foi tão bem assim por aqui, mas que definitivamente fez seu melhor jogo enquanto jogador do Palmeiras - talvez só o 4 x 3 contra o Santos chegue perto dessa partida.

Meu registro das arquibancadas molhadas e o placar final do gol solitário de Armero.

Para quem deseja ver o gol que ele fez, eis o link. Foi um gol solitário, mas não dá para negar que foi um golaço.

No segundo semestre, Armero naufragou com todo o time e suas descidas suicidas nos renderam diversos problemas defensivos que comprometeram o time pela esquerda. O ponto baixo foi no início de 2010, onde a confiança da torcida estava no fundo do poço e ele era o ponto fraco do time, entregando gols para o adversário, como no empate contra a Portuguesa, derrota para os gambás (essa, após quatro anos sem perder para eles) e o fatídico empate por 3 x 3 contra o Ituano em (outro) dia de chuva torrencial em um dos últimos jogos do Palestra. Um jogo fácil que se transformou em tragédia, vaias ostensivas e uma implosão total do resto de confiança da torcida.

Ele não foi bem em 2010, mas nos presenteou com essa dança sensacional em um jogo épico.
Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Armero ainda exorcizou seus demônios na Vila Belmiro com o "Armeration" em um dia em jogou de maneira fantástica, mas após esse jogo, não fez mais nada que merecesse menção (talvez o jogo contra o CAP pela Copa do Brasil no Palestra, mas só), continuando irregular e alternando bons ataques com decisões erradas. Após a Copa de 2010 e já com Felipão, ainda jogou mais algumas partidas após uma transferência frustrada, não agradou e saiu de vez para o futebol italiano, abrindo espaço para a promessa Gabriel Silva. Na época, não lamentamos a saída, embora sabíamos que ele era esforçado. Infelizmente, o que veio depois foi muito pior: Gabriel Silva foi de promessa para lata da casa, Rivaldo foi o pior lateral esquerdo da nossa história, Gerley foi terrível, Juninho é desnecessário falar e Fernandinho também não nos ajudou em absolutamente nada. Só agora, com William Matheus, que temos alguma curva de melhora.

Apesar de ter cornetado muito o Armero, tenho muito respeito por ele, afinal, em nenhum momento desrespeitou a camisa, pelo contrário, o choro no banco de reservas em um dérbi me fez respeitá-lo ainda mais. Mas não servia naquele momento, o jeito atabalhoado, somado com uma torcida furiosa (e com toda razão do mundo) só piorou as coisas. 

Ao lateral, desejo toda a felicidade do mundo nessa Copa e em sua carreira, que seja excelente na Itália e evolua em aspectos que não mostrou aqui. A Colômbia é uma das seleções que tenho muito carinho e torço para que o Armeration seja realizado mais vezes nesse torneio maravilhoso que é a Copa. Mas devo ser sincero, a passagem dele por aqui não foi suficiente para que tenha um clamor de "volta" ou de "injustiçado". Teve chances, mas fez parte de um período que queremos esquecer por completo. A vida segue para todos.

Por Marcus, que acha o Armero carismático, mas tem motivos para não querer a volta dele para o Palmeiras.

O último jogo de Felipão que vi na arquibancada

Por Marcus, um adepto do scolarismo.

Com a proximidade da Copa e com Felipão em evidência em todos os noticiários do planeta, é impossível não associar o bigode com a nossa rica e vitoriosa história. Nesse texto recordarei a última vez que vi o general Scolari como técnico do Palmeiras na arquibancada. Infelizmente, foi em uma época triste, não muito tempo após um dos momentos mais felizes dos últimos anos.

Com um misto de jogadores ruins, fracos de alma e descompromissados, somados com um ambiente completamente insalubre, em setembro de 2012, a vaca do Palmeiras estava caminhando a passos largos para o brejo da segunda divisão. Era um cenário que se desenhava cada vez mais desesperador, poucas coisas me faziam acreditar na permanência do time na primeira divisão, ainda mais após rodadas com desempenhos pífios - derrotas seguidas para CAG, Santos, Portuguesa e empate com Grêmio. O desânimo era latente no semblante de muitos torcedores e precisaríamos de uma grande virada para escapar da degola e isso porque tínhamos quase um turno inteiro pela frente. 

Uma das poucas coisas que me traziam alento era o fato de que ali no banco tínhamos um ídolo e que não se renderia facilmente ao insucesso. Felipão trazia essa segurança, com ele, imaginava que ele repetiria o improvável ao fazer o mesmo grupo carcomido que ganhou a Copa do Brasil jogarem bola novamente.

E veio a noite de quinta, véspera do feriado da independência do Brasil. O Pacaembu lotou com mais de 30 mil palestrinos, todos encarnaram um espírito de guerra forte e a alma felipônica que sempre caracterizou as decisões do Palmeiras. Desde o metrô Paulista, era possível ver a expressão de cada palmeirense, parecíamos que estávamos adentrando um campo de batalha. A noite, que seria a primeira do resgate alviverde, começava muito bem.

Dentro das arquibancadas, o clima não era de festa, mas de querer faríamos a diferença, de que éramos um gigante ferido. Os 3 x 1 para o Palmeiras contra o Sport, no fim, acabaram sendo pouco, mas todos saíram do municipal com uma nova esperança no peito.

Naquele momento eu não sabia, mas seria o último jogo que veria do técnico Luis Felipe Scolari como treinador do Palmeiras. Meu primeiro jogo na arquibancada foi com ele no comando, os títulos que mais comemorei também. Olhando para esse jogo, tudo o que enxergo hoje é que, em meio ao caos e uma luta contra o inevitável, ao menos tivemos uma última noite Felipônica na qual podemos lembrar para toda a posteridade, mesmo que essa tenha sido um dos últimos suspiros de um gigante que entrou derrotado para o campeonato.

Após esse jogo, Felipão ainda nos dirigiu por mais duas oportunidades e saiu. Com a saída dele, meu medo se materializou jogo após jogo e o fim foi aquele que queremos esquecer. 

Mesmo assim, Felipão fez milagres ao levar um elenco recheado de derrotados para o alto da glória ao conquistar um título nacional. Não é qualquer técnico que é capaz disso.

Obrigado Felipão e boa sorte nessa Copa.

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Sei que sou apenas um em meio a milhões, mas para os que aqui leem esse texto fica um pedido que se encaixa tanto na esfera futebolística quanto no mundo como um todo: valorize as pessoas que te deram grandes alegrias e momentos que você guarda para sempre na memória e no coração. 


Apesar de ser indiferente em relação ao desempenho do Brasil na Copa do Mundo (se ganhar ok, mas se perder, não perderei meu sono), comigo, a moral do Felipão está inabalada e torço para que ele e Henrique - dois grandes responsáveis pela nossa última grande alegria enquanto torcedores - tenham desempenhos vitoriosos. 

O grande responsável pela nossa última grande alegria. 

12 de junho de 1993 - Dia da paixão palmeirense

Por Marcus Vinicius.

Na noite de segunda (02 de junho), fui até o espaço Itaú de cinema, em São Paulo, para assistir o documentário "12 de junho de 1993 - Dia da paixão palmeirense", escrito e dirigido pelo jornalista e palestrino fanático Mauro Beting e co-dirigido por Jaime Queiroz. O documentário conta toda a trajetória que levou a um dos dias mais épicos da história do Palmeiras e um título que a maioria considera o mais importante de nossa história, sublimando até mesmo a conquista da Libertadores de 1999.

A produção começa ainda na época da academia, na época de craques como Luis Pereira, Dudu, Leivinha, Ademir da Guia e Cesar Maluco, o desmanche da academia e os primeiros anos sem título, passa pelos terríveis anos de fila e termina com a entrada da era Parmalat e a montagem de um novo esquadrão.

Para quem é mais novo e não vivenciou os anos 80, o documentário consegue passar toda a angústia de quem esteve presente nas arquibancadas do Palestra nessa época e viu times que se não eram terríveis tecnicamente, padeciam com a falta de um espírito vitorioso, vendo elencos com nomes mais fortes baterem na trave constantemente e perdendo para times de menor expressão por muitas vezes. Para mim, a semelhança com o período de 2000 para hoje (com exceções pontuais em 2008 e 2012) não é mera coincidência, mas é uma passagem necessária para entendermos como realmente foi viver essa época. Quando os palestrinos mais antigos dizem que os anos 80 foram para os fortes, eles não estão brincando.

Particularmente, os trechos que mais doeram na alma de assistir foram a eliminação para o XV de Jaú em 1985 e a derrota para a Inter de Limeira em 1986. Senti a dor de quem viveu essa época e me imaginei sentado na arquibancada em estado letárgico, olhando para o nada, tentando entender o que acontecia e se veríamos a luz do sol novamente no horizonte. O depoimento de Denys, assumidamente palmeirense, sobre a fatídica final de 86, foi de partir o coração. O destaque para manchetes que diziam "década maldita" ou "geração perdida" também me soaram muito familiares.

Por outro lado, deu para perceber que nessa época a torcida não parava de crescer. A produção mostrou por diversas vezes as arquibancadas lotadas de palestrinos com bandeiras (quando essas ainda eram permitidas) e pessoas vibrando como se não houvesse amanhã. 

Os depoimentos também foram cheios de alma. Jornalistas palmeirenses (Roberto Avallone, PVC e claro, Mauro Beting), ex-jogadores e outros palestrinos enriqueceram o documentário com seus detalhes e suas visões sobre cada período vivido. Em alguns casos era possível perceber a emoção de cada um e muitos não contiveram as lágrimas ao contar sobre períodos que tiveram uma carga emocional muito forte. Meu destaque fica para o Edmundo, nosso ídolo eterno, que ao contar as origens do apelido "animal", dado pelo radialista Osmar Santos, e como a torcida abraçou o apelido ao cantar "au au au, Edmundo é animal", se emocionou.

Por fim, chegamos a campanha que transformou jogadores vitoriosos em heróis eternos. Percebi uma divisão de opiniões sobre a troca de técnico no meio do campeonato, uns diziam que venceriam mesmo com Otacílio Gonçalves, mas outros disseram que o Vanderlei Luxemburgo fez toda a diferença. No fim, foram unânimes ao dizerem que a preleção do "pofexô" foi uma mola propulsora no dia derradeiro. 

Ainda sobre o time de 1993, a produção mostrou como o time crescia a cada partida, mesmo com as brigas internas, a ascensão de jogadores como Edmundo e a ressurreição de Evair, injustamente afastado pelo péssimo Nelsinho Baptista. Fizeram muito bem em transpor a aura vencedora dessa equipe. 

No primeiro jogo da final, abordaram o nervosismo do time e a provocação de Viola. Mas no segundo jogo, mostraram a emoção de cada momento chave da partida derradeira do dia 12/06/1993. No momento que o terceiro gol foi mostrado não contive minhas lágrimas, afinal, são as minhas primeiras lembranças no futebol e elas não poderiam ser mais doces. O gol de Evair que consolidou de vez o título e o reencontro dos atletas para relembrar esse dia também me deixaram com um nó na garganta muito forte e deu para perceber o mesmo em muitos que ali estiveram na sala de cinema.

Com carga emocional forte, passagens detalhadas sobre cada período e com uma qualidade visual incrível - aplausos para quem realizou a restauração das imagens - o documentário "12 de junho de 1993 - Dia da paixão palmeirense" é obrigatório para todos os palestrinos, mostra uma academia de futebol que fazia inveja para qualquer time, um período muito difícil e o nosso renascimento como uma fênix, de como recomeçamos uma era vitoriosa que nos consolidou como o campeão do século XX. Assim que sair em DVD, faço questão de comprar e prestigiar essa produção maravilhosa.

Os heróis!
Foto: Divulgação (retirada do site FoxSports).

Até ganhamos, mas...

Começou a abstinência. A partir de agora, ficaremos mais de um mês sem ver o Palmeiras em campo. O último jogo antes da parada forçada foi um empate sem gols com o Grêmio, no Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul. Quer dizer, sem gols em termos, já que Diogo fez um gol legal no segundo tempo, anulado pela arbitragem. 

Sem Wesley, Valdivia e Bruno César, os jogadores mais experientes e técnicos do meio para a frente, o Palmeiras não tinha uma liderança técnica com a posse de bola, alguém que colocasse a pelota no chão para esperar o time sair de trás. E por conta disso os dez primeiros minutos foram desesperadores. O Palmeiras não conseguia passar do meio do campo, o Grêmio fez uma blitz na frente da área e não tomamos o gol apenas porque o centroavante deles - apesar das súplicas da torcida gremista - ainda é o Barcos. 

Lucas Uebel/Grêmio FBPA
Passada a pressão inicial, o Palmeiras colocou os nervos no lugar e passou a jogar de igual para igual. Foram mais 10/15 minutos de equilíbrio, e na parte final da primeira etapa, o domínio foi total do Verdão. Em grande parte, o domínio aconteceu porque, depois de muito tempo, voltamos a ter um time bem armado. Wellington na zaga, Marcelo Oliveira de volta ao meio. MO e Renato davam segurança à zaga, o que deu tranquilidade a Lúcio, que fez excelente partida. Wellington também não comprometeu e, com cobertura, William Matheus foi o melhor do primeiro tempo. E em sua jogada mais aguda, o lateral foi à linha de fundo e cruzou rasteiro para Felipe Menezes, que chegou batendo, mas demos azar: a bola que ia para o gol desviou nas costas de Diogo e explodiu na trave esquerda de Marcelo Grohe. Vendo que o Palmeiras não estava morto, o Grêmio se retraiu e não ameaçava mais nem nos contra-ataques. 

No segundo tempo, o panorama do jogo não se alterou. O Palmeiras continuou dominando as ações, apesar de mais cauteloso: Wendel deixou de apoiar o ataque, e Marquinhos Gabriel ficou mais fixo pela direita para ocupar aquele espaço. Com o posicionamento fixo de MG, perdemos um pouco de mobilidade pelo meio-campo, e Felipe Menezes - que teve boa atuação - ficou um pouco mais isolado, tendo que contar com a aproximação dos volantes e de Diogo. E o gol veio justamente com Menezes e Diogo. O primeiro bateu falta pela esquerda, o segundo antecipou-se a Grohe em posição muito legal e marcou de cabeça. Fomos assaltados em Caxias, quem sabe agora já possam parar de falar no pênalti não marcado para o Criciúma lá na primeira rodada. 

Com todos os desfalques - Valdivia, Mendieta, Wesley, Bruno César, Leandro, Prass e outros menos importantes - Alberto Valentim montou o que tinha de melhor para o momento. As únicas críticas são pelo fato de que o time já poderia ter essa formação há tempos, e a demora para mexer, quando o rendimento da equipe já havia caído. E quando mexeu, foi para a entrada de Josimar. Ele mesmo, o ignóbil Josimar. E não é que quase deu certo? O último lance do jogo foi uma boa jogada individual do camisa 15, seguida por uma finalização que passou bem perto. Mas claro que não entrou, porque jogadores ruins só fazem golaços contra o Palmeiras, nunca a favor. 

Agora, assumimos com nossos poucos mas sempre presentes leitores um compromisso de publicar alguns posts durante a Copa, seja para falar de Palmeiras, seja mesmo para falar de Copa, antes que voltemos a campo para mais uma vitória sobre nossos fregueses da Baixada. VEM, COPA!!!!

Atuações:


Ainda bem que temos a parada da copa

O Palmeiras sofreu, na noite desta quarta, em Presidente Prudente, mais uma daquelas derrotas inexplicáveis. Contra um adversário nitidamente inferior, o time fez no primeiro tempo sua melhor partida desde a vitória contra o Goiás, mas não conseguiu converter a superioridade em gols, e o castigo veio na segunda etapa. 

Alberto Valentim, talvez perplexo pela atuação razoável de Felipe Menezes no domingo, resolveu escalá-lo como titular no lugar de Mendieta, contundido. Foi a única alteração com relação ao time titular que perdeu para a Chapecoense. O resultado foi que Menezes só acertou uma jogada em toda a partida: um belo passe para Henrique - que estava impedido. O time apertava o Botafogo, Diogo e Wesley quase marcaram em bons chutes de fora da área, e o gol parecia questão de tempo. 

Com o jogo empatado, tivemos ainda duas chances claríssimas para matar o jogo, ambas com Marquinhos Gabriel. Na primeira, um cruzamento perfeito de Wendel. Mas, quando Wendel acerta, a bola vai na cabeça de quem não sabe cabecear. Marquinhos, sem marcação na linha da pequena área, cabeceou fraco, pra baixo, perdendo o gol. Alguns minutos depois, Wesley fez um belíssimo lançamento para Marquinhos Gabriel pela esquerda, o goleiro Renan saiu do gol precipitadamente, e o camisa 40 tocou por cobertura, mas errou o gol. O castigo quase veio em seguida, quando Renan deu um chutão pra frente e Zeballos raspou de cabeça para o cidadão que adultera documentos e faz contrabando de BMW, que fez o gol. O bandeira errou ao dar o impedimento, mas poucos minutos depois, no intervalo, a postura desse verme acabou dando razão ao auxiliar. Ainda tivemos um pênalti claríssimo em cima de Diogo e outro cometido pelo goleiro Renan em Henrique, obviamente não assinalados por Heber Roberto Lopes. 

O jogo começou no segundo tempo da mesma forma que no primeiro, inclusive com mais uma finalização de Wesley de fora da área logo a um minuto, que assustou o goleiro adversário. Continuamos sofrendo com o fato de ter um jogador a menos, devido a Felipe Menezes estar ainda em campo. Até que o pior aconteceu, o Botafogo achou um gol. Escanteio da direita batido no primeiro pau, Wendel tirou para a entrada da área e Bolatti bateu de primeira, acertando um chute no cantinho, daqueles que nenhum jogador acerta contra outros times, só contra o Palmeiras. O gol simplesmente destruiu o time. Wesley fez duas faltas bestas, tomou dois cartões e foi expulso. Ainda assim, Valentim continuou alienando e demorou para mexer no time. E quando mexeu, manteve Felipe Menezes em campo, e tirou Marquinhos Gabriel para a entrada de Chico. Não é assim que se lança um jovem da base no time principal. Não é quando o time está perdendo e com um a menos que o garoto vai entrar e decidir o jogo. Tudo errado. Bernardo só entrou aos 35. Depois dos 40, ele colocou Rodolfo no lugar de Wendel. Começamos a achar que as vitórias anteriores foram apenas sorte de principiante de Alberto Valentim, porque neste jogo, especificamente, ele se mostrou tão inapto quanto Kleina nas substituições equivocadas e tardias. 

Para piorar, tomamos o segundo em um contra-ataque que mais parecia um lance de fim do futebol do churrasco. A ressaltar apenas a entrega de Diogo, que foi o único que se dignou a dar um pique de 80 metros pra tentar evitar o gol. 

Domingo teremos o último jogo sob o comando de Alberto Valentim. Depois os jogadores terão uma semana de folga, e na volta treinarão por mais de um mês sob o comando de a
Gareca. Esperamos que se confirmem as notícias do acerto iminente com Fernando Tobio, e que venha também um lateral-direito, que é hoje a maior deficiência do time. Ajustando o sistema defensivo, aí sim poderemos pensar em um atacante com maior poder de fogo. Mas, no momento, a defesa é prioridade absoluta. E agora, com o elenco com o moral baixo, qualquer resultado contra o Grêmio que não seja uma derrota deve ser comemorado. Que venha a Copa, e venha logo. 

Atuações: as notas de hoje foram por Ariane, Juliane, Marcus, Mariana, Renato e Thiago. Para nós, houve empate quanto ao melhor em campo, entre Lucio e Diogo. Já quanto ao pior, nenhuma dúvida: foi Wesley, que vinha fazendo sua melhor partida no Brasileiro, mas estragou tudo com uma expulsão besta, jogando fora qualquer possibilidade de reação.