O início do fim

Quando a temporada de 2009 chegou ao seu final, ainda tínhamos diversas duvidas sobre como seria o ano seguinte para a torcida. A decepção do fim de ano tinha atingido um nível nunca antes atingido (perdemos um campeonato ganho) e ouso dizer que mesmo em 2013 ainda não houve uma recuperação plena – afinal, estamos na série B.

Veio 2010 e o time base era muito parecido com o que tinha terminado o ano de 2009, com a diferença de que o emocional geral (tanto torcida quanto time) estava em frangalhos. A desilusão foi tão forte que, admito, por pouco não abandonei tudo ao final daquele ano, mesmo tendo diversos anos de estádio. Mas o hiato entre um campeonato e outro, somado com a nova condição em que me encontrava na vida (recém-formado e com mais tempo para pensar) fizeram bem para mim. Entendi que era apenas mais um torcedor e que mais uma vez o Palmeiras precisaria de seus “mais uns” novamente. E assim continuei fazendo a minha parte sempre que pude e voltei a alimentar ilusões de uma temporada melhor, ainda que racionalmente eu soubesse que as coisas precisariam ser radicalmente mudadas naquele momento.

A estreia do Palmeiras naquela temporada foi contra o Mogi Mirim, pelo Campeonato Paulista. Era a segunda vez que eu veria uma estreia de temporada contra esse time – a primeira foi em 2003, falaremos dela em outro texto - e apesar das condições serem diferentes, o clima de decepção pela temporada anterior dava a tônica para a partida. Antes do jogo começar não consegui encontrar uma pessoa que estivesse com um semblante feliz na arquibancada, parecia que estávamos todos ali carregando um enorme fardo pela temporada anterior.

Se tomar como base os parágrafos anteriores, poderia dizer que esse foi um dos jogos mais deprimentes de nossa história, mas hoje eu guardo com carinho o dia 16/01/2010, afinal, foi a nossa última estreia de temporada no velho Palestra Itália que conhecemos e amamos. E apesar de todos os pesares, era um sábado bonito e teve um número considerável de torcedores (mais de 17 mil pessoas) se formos analisar a decepção da temporada passada.

Em campo, eles teriam trabalho para provar para a torcida que eram merecedores de nosso apoio, especialmente depois de tudo o que ocorreu anteriormente. Diego Souza, a então estrela do time, já não tinha metade do prestígio que tinha alcançado em temporadas anteriores e o desempenho dele ao longo do semestre foi se deteriorando a um ponto onde a relação com a torcida chegou a um patamar insuportável (falaremos sobre o jogo em que a relação azedou de vez em outro texto), mas nesse dia fez o que se esperava dele nas rodadas finais do Brasileiro do ano anterior: chamar a responsabilidade e acabar com o jogo. Fez dois gols e ótimas jogadas, uma das raras vezes que fez isso em 2010. 

Quanto aos outros integrantes da espinha dorsal do ano anterior que jogaram naquele jogo, dava para sentir que também estavam incomodados com a derrocada do ano anterior. Cleiton Xavier, Danilo e Pierre não seriam mais os mesmos, Figueroa enganou todo mundo, Armero teve uma fase irritante que só teve pausa no episódio “Armeration” e Robert variaria entre dias de glória com dias ridículos. O único que permanecia igual era o Marcos.

E tinham os reforços (ou melhor, enxertos) que estrearam naquele dia. Um deles nos incomoda até hoje e infelizmente já fez mais partidas que muitos de nossos ídolos: Marcio Araújo. Pois é, o highlander já fez parte de diversos times bases e não foi bem em nenhum deles, já naquele campeonato paulista era possível ver o quão ruim ele era. O outro era o péssimo zagueiro Leo – que fez gol nessa partida e que foi rapidamente defenestrado do time na metade do ano pelo Felipão. 

O técnico que iniciou a temporada também me incomodava bastante e foi um dos responsáveis pela perda do título em 2009 e por praticamente jogar o primeiro semestre no ralo em 2010: Muricy Ramalho. Claro, não digo que ele foi o único responsável, mas teve sua parcela e nem de longe justificava a presença dele no Palmeiras. 

Como seria o restante do ano ainda era uma incógnita, mas aquela tarde reacendeu um pouco das esperanças e foi um dos raros dias de 2010 em que saímos plenamente felizes do Palestra Itália. Desconfiados pela sequência do ano, mas contentes pelo resultado apresentado – 5 x 1 e com uma certa facilidade. Ingenuamente, voltei a alimentar uma curta ilusão de que poderíamos ter uma temporada com o desfecho melhor do que a anterior, mas aos poucos esse castelo de cartas ruiu como se um tornado tivesse varrido - e se compararmos o início do ano com o final dele, podemos ver dois mundos diferentes, mas com uma decepção ainda maior. Mas ilusões são inerentes à vida de torcedor, que sabemos, não é racional. Foi a vida que escolhemos.

Ainda não tínhamos certeza plena de que o nosso querido Palestra entraria em uma longa reforma naquele ano. Tudo o que tínhamos eram rumores, mas nunca uma data exata para o início das obras, logo, eu não imaginava que aquele seria um dos últimos jogos que eu presenciaria na nossa velha casa.  Aliás, todas as vezes que penso nos jogos realizados no Palestra em 2010 eu sinto um enorme aperto no coração, uma vontade de chorar mesmo. E o Palestra merecia um desfecho bem melhor do que foi apresentado naquele semestre, o que parte ainda mais o coração.

Esse dia 16/01/2010 foi o início do fim em vários aspectos, mas acima de tudo, foi o início do “até breve”. As coisas nunca mais serão as mesmas quando o Palestra voltar, mas as memórias serão eternas. Para mim, esse jogo ficou eternizado como a última estreia de temporada do velho Palestra.

3 comentários

Já passamos por tantas coisas. Somos uma torcida admiravel, apesar de tudo, a fé e a fibra nunca acabam.

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Me lembro bem desse dia. Nessa mesma semana, eu havia me mudado de SP de volta para o Interior, e esse foi o primeiro jogo em que estive de volta à condição de torcedor à distância. Pra piorar, não pude ver o jogo nem pela tv. Quando soube do resultado, cheguei a comentar que 5 gols em um só jogo era muita coisa para o Muricy e ele jamais permitiria isso novamente. Dito e feito. Nunca mais fizemos 5 gols sob o comando dele, e tenho minhas duvidas se algum time dele voltou a fazer 5 gols depois desse dia.

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Não só não fizemos mais como ainda perdemos a invencibilidade de quase 4 anos nos dérbis, fomos surrados pelo São Caetano e empatamos com diversos times pequenos.

Muricy foi um atraso de vida.

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