Quatro anos após o adeus a um velho amigo

Na próxima quinta (22 de maio), farão exatamente quatro anos desde o último jogo oficial do Palmeiras no mágico e saudoso Palestra Itália, após quase dois anos de especulação sobre a construção da nova arena (que hoje está quase pronta). Impossível não sentir saudades do velho templo recheado de tantas glórias e que formou muito de nossa identidade enquanto torcida. 

E o último jogo oficial, como não poderia deixar de ser, foi repleto de diversos sentimentos, que variou desde a alegria por apenas estar ali presente até a tristeza por saber que aquela seria a última vez que veria um jogo no Palestra do jeito que conheci. Desde o momento em que vesti a camisa em casa tendo em mente de que aquele era o último jogo oficial, até após o lanche no Bourbon, muito tempo após o apito final, no qual passei pela Francisco Matarazzo e visualizei o estádio por mais uma vez. 

Em 2010 eu tinha 22 anos, tinha vivido um pouco mais da metade da minha vida tinha sido na arquibancada do Palestra. Vi não apenas esquadrões, ídolos mostrando habilidade e vitórias épicas, mas também derrotas que doeram na alma e times que nem de longe honraram a nossa rica e gloriosa história - inclusive o do ano corrente, afinal, o time que entrou em campo era um catado enxertado com a sobra dos jogadores derrotados do interminável ano de 2009. Muitas histórias de cada palmeirense que pisou no Palestra Itália (e mesmo aqueles que queriam conhecer, mas estiveram lá com a alma), cada uma com sua peculiaridade, foram escritas com amor e alma em cada palmo do concreto da arquibancada. Se normalmente já não gosto de despedidas, nesse dia doeu mais.

Tudo o que fiz nos momentos que precederam a partida tiveram um peso maior dentro do coração: o percurso no metrô, a caminhada da estação Palmeiras-Barra Funda até a Turiassú, a passada no Bar do Sílvio para tomar uma cerveja antes de entrar e, finalmente, a entrada. Antes de adentrar o Jardim Suspenso pela última vez de maneira oficial, lembrei-me do meu pai, me levando para assistir um jogo pela primeira vez em 1999 após muita insistência da minha parte. Nesse dia ele não estava presente (a última vez dele no Palestra foi contra o CAG, nas quartas de final da Copa do Brasil desse mesmo ano), mas a memória dos inúmeros jogos que vimos juntos e dos momentos insólitos que presenciamos ao longo desse período veio e, claro, meu coração apertou antes mesmo de entrar no estádio. Mas naquele instante eu consegui segurar as lágrimas.

Uma vez dentro, a caminhada pelo fosso foi lenta. Tudo o que eu queria era contemplar os detalhes que sempre estiveram ali, como os tijolos laranjas de um lado e as numeradas de outro. Andando mais um pouco, me recordei que em muito tempo de Palestra, o único jogo de numerada (descoberta) que vi foi em 2003, contra o Sport, no primeiro quadrangular da tenebrosa segunda divisão (e perdemos por 3 x 2). Ainda no fosso, me recordei das tradicionais saídas onde o jornalista Chico Lang era "homenageado" por todos, mesmo que ele não estivesse ali (se é que um dia esteve), mas que era a representação corpórea da "imprensa de gambás" que tanto sentimos ojeriza.

Subindo as arquibancadas, olhei para onde estava o Setor Visa, local que enquanto era arquibancada, era onde eu e meu pai permanecíamos, com uma visão boa para o jogo e com uma vibração sem igual. Na hora, fiquei nervoso ao pensar que aquele setor só servia para atrapalhar - nesse jogo e contra o Boca Júniors (no fim do texto volto a esse tópico), essa parte estava vazia. Já instalado na arquibancada, deu para sentir o mesmo aperto no coração de cada um dos quase 18 mil que ali estávamos.

E antes do jogo começar reencontrei meus velhos amigos de arquibancada e que hoje são amigos para toda a vida. Companheiros de diversos prélios, especialmente de 2006 em diante, com quem pude dividir todas as alegrias e angústias inerentes à vida de torcedor. Com eles que assisti um Palmeiras então desfigurado fazer uma partida primorosa (algo incomum na temporada em questão) contra o Grêmio, time que duelamos tantas vezes e que, por um golpe do destino, foi o último adversário oficial do Palmeiras em nossa velha casa. Foi nessa noite que vimos São Marcos realizar sua última partida no campo onde ele venceu a Taça Libertadores de maneira épica. 

Coube ao meia Cleiton Xavier a honra de fazer o último gol no Jardim Suspenso, em um jogo que terminou 4 x 2 para o Palmeiras. Fim de jogo. Fim de uma era.

Mas não queríamos sair dali. Muito após o apito final, ainda estávamos na arquibancada, observando o estádio sendo esvaziado e permanecendo por lá, com mais alguns outros que também não estavam prontos para dizer o adeus definitivo. Do muro da arquibancada com o fosso, dei uma última olhada no panorama geral do estádio, agora já vazio. O coração apertou ainda mais.

Após o lanche no Bourbon e olhando para a fachada do Palestra pela última vez que finalmente caiu a minha ficha de que uma era tinha acabado. As lágrimas enfim vieram e só restou olhar para trás e dizer "obrigado por tudo, Palestra". Todos os momentos vividos ali viraram histórias, pedaços da minha vida que sinto alegria apenas em lembrá-las. Mais da metade da minha vida (até então) foi vivia naquele local.

E hoje repito: obrigado por tudo, Palestra!

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Após esse dia, ainda teve o jogo festivo contra o Boca Júniors. A carga emocional foi menor do que contra o Grêmio e desse dia guardo a festa e a simbiose da torcida (exceto o letárgico Setor Visa, que estava vazio). Valeu por poder estar na arquibancada por mais uma vez, como se fosse um dia bônus para todos que estiveram ali. 

O jogo contra o Boca em si foi horroroso, mas guardo essa foto que tirei abaixo para a posteridade.

A última foto e a saudade imensurável que sinto desse lugar.

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Não sei como será a nova casa, mas sinto saudades de tudo o que cerca o jogo na região. Volta logo, Palestra! 

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