O amor abençoado pela arquibancada

Não é incomum você caminhar pela arquibancada ou virar para os lados e observar casais sentados no concreto antes de uma partida de mãos dadas, partilhando a aflição de uma partida difícil, a catarse de um gol e principalmente o amor pelo Palmeiras. Também não é difícil ver um casal se beijando na arquibancada como forma de conforto instantâneo em meio ao clima de guerra que proporcionamos ao adversário, seja em jogos difíceis ou partidas mais amenas. 

Às vezes paro por um momento e fico imaginando cada uma dessas histórias, se elas começaram ali mesmo na arquibancada ou se apenas o amor pelo Palmeiras e pela arquibancada eram coisas em comum e por fim decidiram unir forças no concreto. Puro devaneio no qual só podemos palpitar, afinal, são faces desconhecidas e que no fim se desfocam na memória ao piscar dos olhos. 

Mas já vi um amor entre palmeirenses germinar na eterna arquibancada do Palestra Itália, mais precisamente na noite de 13 de julho de 2006, uma quinta consideravelmente quente para os padrões do mês de julho. O jogo em questão era contra o Vasco e era o primeiro pós-copa (um período que nos salvou o pescoço). A situação nossa na tabela era a pior possível – éramos vice-lanternas – e precisávamos de uma reação urgente. Mas mesmo com toda essa penumbra que pairava no ambiente alviverde, foi possível ver como o destino uniu dois palestrinos fanáticos em meio à má fase do Palmeiras.

Pode-se dizer que esse sentimento surgiu como um embrião em mais uma noite magistral de Edmundo, jogando como o animal de sempre e marcando dois gols na vitória por 4 x 2, que deu início a uma interessante trajetória de recuperação no Campeonato Brasileiro de 2006. 

Ou podemos também dizer que esse amor veio da coincidência de estarmos caminhando na arquibancada, na parte onde posteriormente estragaram tudo ao instalarem um Setor Visa, rumo aos nossos lugares e simplesmente ver uma história começar com um simples “oi, tudo bem?” vindo de uns degraus abaixo. Coisa do destino, com um símbolo verde e branco. Mas o palco definitivo desse início foi a saudosa arquibancada de concreto do Palestra Itália.

O fato é que após esse dia, tive a felicidade de partilhar incontáveis histórias com esse casal dentro da arquibancada nos anos subsequentes. Comemoramos muitas vitórias, amargamos tristes derrotas, tomamos muito sol e chuva na cabeça e vimos diversos jogadores dos mais diferentes estilos (bons e ruins) passarem pelo Palmeiras ao longo desses anos todos. Indo além do Palmeiras, digo que são amigos para a vida que me orgulho de ter conhecido e no qual agradeço eternamente pelas risadas proporcionadas em momentos divertidos nesses anos todos.

Assim como eles e conforme disse no primeiro parágrafo, muitos casais palestrinos se formaram (ou mesmo se desfizeram) ao longo dos tempos. Se foi na arquibancada ou não, pouco importa, mas ver que histórias de amor foram gravadas em pedra nas arquibancadas (ainda que simbolicamente falando) juntas com o amor pelo Palmeiras, isso não tem preço que pague. 

E que muitos outros casais tenham a benção da palestrinidade e das arquibancadas. Que um palestrino(a) e sua metade especial tenham momentos especiais para comemorarem nos próximos anos, com muito amor e títulos. Todos merecem.

- Esse texto é uma homenagem minha (Marcus) para dois amigos palestrinos que estão noivos e que me inspiraram a escrever esse texto, mas se estende para todos os casais de palestrinos espalhados pelo mundo, especialmente aqueles que têm a felicidade de assistirem um jogo juntos na arquibancada. Não sei o sentimento, mas não deve ter preço que pague assistir o time que ama com a pessoa que ama e que seja tão fanática quanto você.

- Vale outra ressalva pessoal: sou extremamente contra torcedores de outros times virem para jogos do Palmeiras unicamente por estarem em casal. Jogo do Palmeiras é para palmeirenses e são esses que devem estar presentes. Um lugar de palmeirense pronto para a batalha não pode ser tomado por torcedor de outro time que está lá só para fazer média. Ponto final.

Arquibancada é o melhor lugar. 

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