A estreia do Brasileiro de 2004 e os pontos corridos

O ano de 2004 foi muito estranho. No mundo do futebol, aberrações como Santo André, a seleção da Grécia, Once Caldas e o odioso São Caetano conquistaram títulos de magnitude, contrariando prognósticos de todos. Foi um dos anos menos memoráveis que se tem notícia no futebol, tanto que uma das principais lembranças que tenho é da baixa média de público que dominou a temporada como um todo.

A temporada também foi estranha para o Palmeiras. No ano anterior subimos e surgiram algumas revelações da base durante a temporada de 2003 que somadas com alguns enxertos de qualidade duvidosa (isso sendo brando), deram liga naqueles quadrangulares finais. Era de se esperar uma melhora na base? Sim. O que aconteceu na prática? O time piorou demais. Cortesia de um comando defasado que claramente não dava a mínima para futebol e torcida. Já no segundo jogo do ano perdemos o atacante Edmilson (hoje no Vasco) e com isso Muñoz foi alçado para titular, revezando com o maior “reforço” da temporada: Adriano Chuva. Pois é. Ainda tivemos um jovem da base chamado Rafael Marques – vulgo Linguiça e muito ruim de bola – que virou opção para o banco. 

Do time base, os únicos que se salvavam eram Marcos (Sergio no segundo semestre), Nen (outro que havia chegado), Marcinho Guerreiro, Magrão (o fato de termos considerado esse pulha um ídolo mostra o quão ruim estávamos), Pedrinho (que engatou uma sequência sem lesões no Paulista) e Vagner Love. Quanto aos outros destaques da série B, a máscara caiu e logo vimos o quão péssimos eles eram ao longo do tempo. Lúcio, Diego BDU, Baiano, Elson, Glauber (que nunca saberemos o porquê de ter sido convocado para a seleção CBF em 2005), Alceu e outras tranqueiras, nos irritaram por muito tempo.

Depois de naufragarmos no Paulista após perdermos nos pênaltis para o Paulista de Jundiaí (abordarei mais jogos do Paulista desse ano em outro texto e com mais detalhes), ainda teríamos a Copa do Brasil (a mais fácil de todas) e o Campeonato Brasileiro, com 24 times e 46 longos jogos de turno e returno. Nossa primeira incursão em pontos corridos não poderia começar de um jeito mais maçante. 

E começou em uma quarta chuvosa, em pleno feriado de Tiradentes (21/04/2004). A cidade úmida e escura já indicava que o Palestra Itália não lotaria contra o Atlético-MG. Só não digo que foi a estreia mais melancólica de Brasileiro que já vi porque nada supera aquele jogo contra a Ponte Preta em 2006, também com chuva e com marcha fúnebre feita em uma arquibancada vazia em forma de protesto contra a má fase do time.

Realmente não foram muitas pessoas para ver um chatíssimo zero a zero em que o destaque foi São Marcos com belas defesas digno do melhor goleiro do mundo que sempre foi. Não sei o público exato da tarde (pesquisei, mas não achei), mas não tinha passado de 10 mil testemunhas. Lembro exatamente das feições de tédio e desânimo de cada palmeirense naquela partida, se misturavam com a água da chuva e com o ambiente escuro. Talvez fosse o jogo ruim e a falta de ações dentro de campo, mas pensando um pouco mais, imagino que talvez fosse um presságio do que veríamos por anos a fio nesse modelo de campeonato: longas rodadas e uma pasmaceira sem limites. Pontos corridos são uma praga, simplesmente não funcionam aqui no Brasil. 

No campeonato de 2004 foi ainda pior. Se hoje ficamos aborrecidos com as longas 38 rodadas, naquele ano foram 46. Não era incomum ter jogos com baixa presença de público, só mesmo nas rodadas finais, quando almejávamos título e engatamos uma sequência de seis vitórias (com o elenco ainda pior do que o citado parágrafos acima) que houve uma ligeira melhora na média de público – a construção da arquibancada verde limão tomou conta de grande parte do ano, impedindo a entrada via Turiassu, mas não era esse o fator que expelia as pessoas.

Em uma postagem recente em meu Facebook, disse que o sistema de pontos corridos é uma estaca no coração do futebol. Matou o imprevisível, a emoção das decisões e tiraram até tirando a torcida dos estádios - de quase todos os times. É triste acompanhar campeonatos nos quais o vencedor é "o menos incompetente", premiando a covardia de times medíocres que não se arriscam.

De qualquer maneira, que em 2014, o Palmeiras entre para vencer e honrar a disputa, independente se gostamos ou não desse sistema enfadonho e ridículo.

Morte aos pontos corridos.

Meia entrada por R$7,00 no bom e velho Palestra Itália. Tempo bom que não volta mais.

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