Os pós-jogos na Rua Caraíbas

Ao final de cada jogo no Palestra Itália, especialmente aos finais de semana com jogos às 16h e 18h, cada palestrino tomava seu próprio rumo: ou ia direto para sua casa, ou esticava o tempo no West Plaza (entre 2008 e 2010, também o Bourbon) ou aproveitava os estabelecimentos ao redor do Palestra para matar o tempo e viver o clima da esquina da Rua Turiassu com a Rua Caraíbas por mais algumas horas. Depois de grande, já com meus 18 anos, passei a fazer com frequência a última opção. Na medida em que fui conhecendo mais palestrinos, mais tempo passava com eles no pós-jogo.

Devido ao bom leque de redutos palestrinos na região, nunca sabíamos exatamente o que fazer ao descer as escadas e caminharmos pelo fosso em direção à Turiassu. Era comum estarmos em dúvida se comeríamos uma deliciosa pizza no Alviverde ou se apenas beberíamos cervejas até cansarmos no Bar do Sílvio. Muitas vezes, as duas opções juntas soava como uma ótima ideia, isso dependia também do resultado da partida. 

Duas situações que contrastam bem o clima de pós-jogo aconteceram no primeiro turno do Campeonato Brasileiro de 2007, ambas em um intervalo de mais ou menos um mês: a vitória por 2 x 1 em cima do Figueirense, na 2ª rodada, e a derrota para o CAP por 2 x 0, na 7ª rodada. 

No dia em que vencemos o Figueirense queríamos aproveitar a mescla entre a atmosfera positiva gerada pela boa vitória do Palmeiras e o belo final de tarde que a cidade de São Paulo proporciona em algumas ocasiões. O alto astral era explicável, afinal, vencíamos a segunda seguida e o futebol mostrado era diferente do Paulista e Copa do Brasil, torneios que fomos eliminados precocemente na temporada em questão. Nessa noite estávamos em um grupo grande de amigos e juntamos várias mesas de plástico na calçada entre o Bar do Sílvio e o Alviverde, pedimos algumas pizzas, muitas cervejas e comemoramos a vitória, compartilhando as esperanças para o restante da temporada, discutindo alternativas para o time e até concorrentes, temendo que o time tropeçasse por coisas bestas.

Nesse mesmo fim de tarde apareceu um senhor, muito bêbado, dizendo que fez parte das categorias de base do Palmeiras nos anos 60. Digamos que ele não era muito sutil, pois ele gesticulava com os punhos fechados e em uma dessas histórias aleatórias que ele contou (que não lembro exatamente porque também já estava com álcool no sangue) ele acertou minha cabeça, fato inclusive registrado em foto (que infelizmente não subo nessa postagem porque ficou em meu outro HD, que ainda não recuperei). Mas o bom humor era tanto que perdemos a noção do tempo, notamos a Turiassu se esvaziar, as camisas do Palmeiras eram cada vez mais raras na região, as luzes do Palestra Itália já não era mais vista e por fim rumamos para o metrô Palmeiras-Barra Funda com a sensação de que vivemos um dia de Palmeiras por completo.

Pouco mais de um mês depois a sensação ao sair do Palestra era contrária do que tinha visto na segunda rodada. Estávamos extremamente nervosos com a apatia do time no jogo contra o CAP, a atmosfera pós-jogo era de tensão, as vaias para todos naquele dia foram justíssimas e de postulantes ao título, já estávamos no meio da tábua de classificação, entrando no quinto jogo sem vitória. Eu estava tão nervoso que nem lembro por onde saí do estádio nesse dia – tudo por conta daquelas grades sem sentido instaladas na curva que atrapalhou muito por alguns jogos.

Nesse dia do jogo contra o CAP não teve pizza, apenas cerveja no Bar do Sílvio. A cada garrafa que pedíamos, era um xingamento diferente contra o então técnico (ou melhor, estagiário) Caio Júnior. Em goles, lamentávamos as oportunidades perdidas e conjecturávamos o que poderia acontecer na semana seguinte, um dérbi contra os gambás no panetone. Por outro lado, o simples fato de beber umas cervejas com os palestrinos que estavam tão nervosos quanto eu, ironicamente, me deixava mais tranquilo. No fundo do coração, quero crer que o fato de estarmos ali no Bar do Sílvio compartilhando nossas agruras, era um alento para todos os presentes.

Sinto muitíssima falta dos pós-jogos do Palmeiras no Palestra Itália, especialmente com meus amigos mais próximos, onde passávamos de minutos a horas infindáveis na região. O estádio municipal tem bons estabelecimentos nas redondezas, mas nenhum com a aura verde e branca que era exalada dos bares da região do Palestra.

Não sei como será o Palestra Itália assim que reinaugurado (tenho meus medos e uma certa tristeza referente a isso, algo a ser abordado em outro texto), mas ainda quero passar novos e bons momentos no pós-jogo com amigos palestrinos assim que voltarmos para a nossa casa. De um jeito ou de outro, as memórias que tenho dos pós-jogo nos arredores do Palestra Itália antigo são eternas.

Ps: também terá um texto que abordará o(s) clima(s) de pré-jogo(s) no eterno Palestra Itália.

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