Viradas (in)esquecíveis - Grêmio 2 x 3 Palmeiras (Brasileiro de 2004)

“Lelele, lelele, leleô, ôôôôô. O Palmeiras é o time da virada, o Palmeiras é o time do amor”. ♫

O cântico que faz a introdução deste texto já foi entoado por diversas vezes em jogos do Palmeiras nas muitas vezes em que estivemos em situação adversa no placar. Nem sempre a virada de jogo acontecia e saiamos nervosos do estádio (Palestra, Pacaembu e por ai vai), mas nas vezes em que virávamos um jogo difícil, a satisfação ao final do prélio era dobrada.

Particularmente prefiro os jogos em que o Palmeiras esmague o adversário e imponha uma goleada impiedosa, afinal, a exigência pela qualidade e foco constante, é uma característica intrínseca de todo palestrino e comigo não é diferente. Mas viradas de jogos também causam boas sensações ao final do dia, especialmente pela demonstração de força e personalidade que o time mostra na luta para reverter o placar adverso. 

Nessa série de textos não falarei das viradas épicas que todos se lembram (ex: Palmeiras 4 x 2 Flamengo, noite Felipônica com atuação primorosa de Euller), mas sim das viradas pouco cotadas e que não são muito lembradas em nosso folclore alviverde, especialmente porque não resultaram em classificações ou títulos. Mesmo assim essas vitórias estão em nosso vasto arsenal de vitórias e certamente fizeram com que o nosso dia ficasse bem melhor.

Separei alguns jogos desses (in)esquecíveis, mas que me recordo da alegria ao final do jogo. Hoje a série começa com o jogo contra o Grêmio, válido pela 39ª rodada do Brasileiro de 2004.

Palmeiras 3 x 2 Grêmio – Brasileiro de 2004.
O Brasileirão de 2004 foi o primeiro que o Palmeiras disputou no maldito sistema de pontos corridos (que enfiem esse sistema onde o sol não bate) e mesmo com um time absurdamente fraco, fomos longe. Após um primeiro turno surpreendentemente bom (mesmo com derrotas ridículas, como contra Paysandu e Guarani fora e uma dolorida goleada sofrida para o Goiás em casa), perdemos o fôlego na primeira metade do segundo turno. 

Quando tudo parecia enfim perdido, o time engatou uma nova sequência de vitórias na reta final e voltou a sonhar com o título: vitórias contra um Juventude em boa fase, contra o CAP que era líder (foi um senhor jogo no Palestra Itália, diga-se de passagem, falarei sobre esse jogo em outra postagem) e contra o Botafogo (também no Palestra, em uma terça e com gol do Correa no final do jogo). O jogo seguinte seria contra o lanterna e praticamente rebaixado Grêmio em Erechim.

O Grêmio de 2004 não metia medo em ninguém, nem mesmo o peso da camisa do adversário era problema, tamanha ruindade dos jogadores que eles tinham. Mas o Palmeiras entrou desligado no primeiro tempo e tomou dois gols logo de cara, cortesia de um tal refugo chamado Claudio Pitbull – creio que tal desatenção coletiva tenha sido causada pela morte do zagueiro Serginho, do São Caetano, que ocorreu na mesma semana e chocou a todos. 

Como o jogo foi às 18h de um sábado e eu não tinha Sportv em casa, a solução foi ouvir o jogo pelo rádio, o que potencializou muito a minha angústia. O que me confortava é que eu sabia que aquele time do Grêmio era tão ruim que não era impossível reverter o placar, mas precisávamos diminuir no primeiro tempo para entrar com tudo na etapa final, o que infelizmente não aconteceu. Para piorar, o goleiro deles era o Marcio, aquele que tinha fechado o gol contra o Palmeiras na semifinal do Paulista meses antes, o que aumentava a sensação de “fizemos o mais difícil antes e hoje perderemos para o fácil”, o que era a história da nossa vida naquele ano. 

Foi ai que o atacante Ricardinho, “carinhosamente” apelidado de pé-torto - graças as suas conclusões que iam para a lateral -, entrou em ação ao marcar um gol logo no início do segundo tempo. Dava para virar. 

Mas o segundo tempo prosseguiu e nada acontecia, mesmo com Estevam "Fred Flinstone" Soares mexendo no time. Precisou o infame goleiro Marcio ser expulso para sonharmos novamente com a virada. Ai foi a vez de Thiago Gentil, que entrou no lugar de Nen (sério, como esse time foi pra Libertadores?), entrar em ação. O atacante que corria como se estivesse dançando ballet empatou o jogo e deu início a um verdadeiro blitzkrieg palestrino em busca da quarta vitória seguida.

E quando o jogo se aproximou da reta final, fui interrompido pela assustadora vinheta da “Voz do Brasil” e entrei em parafuso. Tudo o que pensava era “como esses desgraçados interromperam o jogo?”, completamente desesperado. Após essa inconveniência, meu coração parou de vez por diversos segundos, pois a primeira coisa que ouvi foi o locutor gritando gol. Quando finalmente falou “gol de Ricardinho, o Palmeiras vira a partida”, comecei a chorar e pular pelo quarto como se não houvesse amanhã. Foi no último suspiro da partida, não tinha ouvido o gol, pouco me importava como tinha acontecido, mas foi uma explosão muito forte de alegria, como poucas vezes tinha acontecido no ano corrente de 2004.

Foi a quarta vitória seguida, a segunda com gol nos acréscimos. Parecia que iriamos realmente engatar rumo ao título, ainda mais do jeito que estava acontecendo. Após esse jogo, ainda vencemos mais duas (Paysandu em casa e Figueirense fora), mas o sonho do título foi enterrado de vez ao perdermos para o rebaixado Guarani com um Palestra com mais de 22 mil pessoas – algo que infelizmente foi incomum naquele ano. 

A perda do título, somada com o sistema maldito de pontos corridos, fez com que esse jogo não fosse muito lembrado. Se conquistássemos o Brasileiro nesse ano, talvez lembraríamos com mais carinho dessa partida contra o Grêmio.


- Ia escrever outros jogos nessa postagem, mas como ficou grande, resolvi desmembrar e transformar em “série de textos”, portanto, teremos mais viradas (in)esquecíveis nas próximas postagens.

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