Viradas (in)esquecíveis II – Palmeiras 4 x 2 Ponte Preta (Paulista de 2006)

Continuando a série de viradas (in)esquecíveis iniciada na tarde de ontem (16/12), hoje abordarei o jogo contra a Ponte Preta, pela 15ª rodada do Paulista de 2006.

Palmeiras 4 x 2 Ponte Preta - Paulista de 2006
O ano de 2006, a primeira vista, parecia promissor. Tínhamos um dos destaques do campeonato anterior (Paulo Baier, o infame presente de natal), jogadores líderes que formavam uma base de respeito (Juninho Paulista e Gamarra), refugos em boa fase (Marcinho Gardenal e Marcinho Porpeta) e dois grandes ídolos (Marcos e Edmundo, que havia retornado). Claro, tínhamos também furos irritantes no elenco, tal como Lucio, Marcio Careca, Daniel, Valdomiro, Enilton e outros. Mas de modo geral, o clima era de esperança.

Esperança essa que levou um público de mais de 27 mil pagantes em um jogo de estreia, ainda no dia 10/01, data incomum – muito também pela estreia de Edmundo. Desde que comecei a ir ao estádio, não me recordo de tantas pessoas em um jogo inicial como nesse ano. 

E apesar de um início avassalador com diversas vitórias em sequência, perdemos o choque-rei e nosso castelo de cartas ruiu, logo, passamos a notar todas as deficiências latentes do time comandado pelo péssimo Emerson Leão (ídolo apenas em campo). Nas primeiras rodadas estávamos sem Juninho (que se jogou 4 vezes no semestre, foi muito) e a armação ficou sobrecarregada com Marcinho, que logo mostrava que não era aquele jogador voluntarioso que comemoramos quando veio do São Caetano – e que foi artilheiro do time em 2005. Paulo Baier (já com idade avançada) não rendia na lateral, comprometendo todo o lado direito. Daniel e Gamarra se davam mal com atacantes rápidos (e os reservas Leonardo Silva, Douglas e Valdomiro, bem...). Logo vimos que não seria um ano fácil.

Ainda assim caminhávamos bem no Paulistão, mesmo com o formato esdrúxulo de pontos corridos, praga que se fez presente pelo segundo ano seguido – felizmente o último. Comboiamos entre os líderes até a fatídica goleada sofrida pelo América-SP (4 x 1) em pleno Palestra Itália. Na rodada seguinte perdemos para o Santos, concorrente direto pelo título. Tudo parecia ter ido por água abaixo, mas uma vitória contra a Portuguesa (o jogo em que Alceu vestiu a 10, pois é) nos colocou de volta no páreo.

E ai só faltariam 5 rodadas. O jogo seguinte foi no Palestra Itália contra a Ponte Preta, no domingo de 19/03. 

Minhas memórias do pré-jogo são turvas, pois na noite anterior foi minha formatura do colégio. Como era um garoto de 18 anos que não estava nem ai para os bons modos, abusei da cerveja e vinho e virei a noite com os amigos. Não estava nem ai, mas sei que muitos palestrinos já fizeram isso também.

Sem pregar o olho e ainda meio tonto, fui para o Palestra Itália com meu pai, na esperança de que o time ainda demonstrasse vontade de ganhar o título. Embora não dependesse mais da gente, era possível.

Não sei se era o efeito retroativo da bebida, mas a dor de cabeça veio forte logo no primeiro minuto de jogo, quando a Ponte marcou o gol. Leão, gênio como sempre foi, armou o time com Marcinho Guerreiro, Correa e Marcinho na meia e Enilton, Edmundo e Washington Dumbo no ataque. Edmundo sozinho não faria milagres, óbvio que daria errado. 

Ainda grogue com a bebida e o primeiro gol, continuamos cantando na arquibancada, mas o time não criava e toda a pressão exercida era inútil. Como o time foi todo para frente e não tinha velocidade para voltar (a base era envelhecida, lembrem-se), tomamos o segundo gol. Parecia que tudo ali estava perdido de vez, tanto o jogo quanto o campeonato.

Com 2 x 0 para a Ponte, o solerte treinador grisalho teve uma epifania maluca que deu resultado: tirou Enilton e colocou Cristian Mendigo. Na hora ficamos meio confusos, afinal, tirar Enilton, que era um peso morto em campo, ok. Mas como raios virar o jogo com o desleixado meia hipster que erra passes de meio metro? Milagrosamente deu certo. Ganhamos o meio de campo e as oportunidades voltaram de maneira natural. Três minutos após a substituição, por volta dos 35 do primeiro tempo, Marcinho Porpeta diminuiu a contagem, dando uma esperança de que o time voltasse com tudo para o segundo tempo.

Felizmente, nos minutos finais do primeiro tempo o time manteve o embalo obtido pelo primeiro gol e para a nossa surpresa, aos 43, o animal Edmundo empatou o jogo. O Palestra explodiu.

Ainda extasiados com o súbito empate que veio em menos de 10 minutos, tudo o que pensávamos era “no segundo tempo iremos virar isso”. Foi melhor que a encomenda. Aos 45, na última jogada do primeiro tempo, Paulo Baier cruzou um escanteio na cabeça de Washington Dumbo e viramos o jogo. 3 x 2 para uma partida (e campeonato) que pareciam ter ido para o ralo até os 30 minutos do primeiro tempo.

No segundo tempo o Palmeiras só cadenciou o jogo, perdeu a chance de aplicar uma goleada histórica. A Ponte Preta não ameaçava, mas a euforia que tomou conta dos palestrinos durante o intervalo deu lugar a uma inesperada apreensão, afinal, o medo de que eles empatassem o jogo novamente era grande.

A tranquilidade definitiva só veio mesmo aos 44 do segundo tempo, com gol de Marcinho Guerreiro, em cobrança de falta de Edmundo. Fim de jogo, 4 x 2 que lavou nossa alma.

Essa virada nos deixou na vice liderança do Paulista, a dois pontos do Santos e faltando quatro rodadas. Poderia ser muito bem o jogo que marcaria o sprint final rumo ao título, mas infelizmente se mostrou como o último suspiro, pois empatamos o dérbi na semana seguinte e perdemos para o Paulista em Jundiaí, jogo que minou de vez todas as chances de título. 

A sequência desse ano foi a mais maldita possível. Na Libertadores fomos para as oitavas, mas fomos garfados. No Brasileiro, fizemos uma campanha ridícula e por pouco não fomos antes para o inferno que disputamos nesse ano de 2013. 

Mas a virada contra a Ponte Preta nos deu um dia a mais de esperança, mesmo que os dias seguintes fossem tortuosos.

E ele veio com status de craque. Pois é.
Foto: Fernando Pilatos/Gazeta Press

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