Francis e o gol que surpreendeu o Palestra Itália

O ano de 2006, conforme já dissemos em textos anteriores, começou cheio de esperanças e por pouco não terminou de maneira trágica. Com elenco nitidamente envelhecido e com a água no pescoço quando fizemos a pausa para a Copa, o então treinador Tite diagnosticou que o elenco precisava de sangues novos – literalmente falando. A partir daí, passou a usar mais jogadores oriundos da base do Palmeiras, entre eles estava o volante Francis.

O volante com nome de sabonete apareceu pela primeira vez na Copa São Paulo de 2003, junto com Vagner Love, Edmilson, Diego BDU Souza, Alceu, Deola e outros, quando perdemos nos pênaltis para o Santo André. Em relação aos citados, demorou muito mais para aparecer no time de cima, mas quando apareceu não empolgou ninguém. Pelo contrário, mais irritou do que passou segurança. Poderia dizer que lembra vagamente do nosso volante atual (que torço diariamente para que saia de uma vez) chamado Marcio Araújo, pois cometia os mesmos erros primários de fundamento, a marcação era falha e não impunha respeito algum perante os oponentes.

Na arrancada pós-copa que livrou o Palmeiras da degola, Francis fez a dupla de volantes com Wendel (esse mesmo, pois é) e o time engatou uma sequência de 11 jogos invictos – com muitos empates bestas, é bom ressaltar. E passado o momento de terror que nos atormentou por meses, por raros dias sonhamos com ao menos uma vaga na Libertadores.

E chegamos à última rodada do primeiro turno confiantes de que o time realmente conseguiria essa bela arrancada. O jogo que fechou o turno aconteceu no Palestra Itália contra o time do tapetão (vocês sabem de quem falo), em uma quarta que precedeu o aniversário de 92 anos do Palmeiras – o primeiro ano do Tsunami Verde. 

Estava em meu primeiro ano de faculdade e era a semana de comunicação, dias que não computavam faltas. Apesar de ter comparecido em tal evento nos outros dias, no dia do jogo resolvi ir ao Palestra (como fiz de maneira calculada por diversas vezes ao longo dos 4 anos de curso). Se tivesse ido para a faculdade eu provavelmente veria alguma palestra que não lembraria sequer o tema e perderia um gol antológico que ninguém acreditou que aconteceu.

O time do tapetão possuía bons nomes (Marcelo e Thiago Silva hoje estão na seleção da CBF), mas a confiança do Palmeiras era grande. Do alto da arquibancada vimos o zagueiro Nen abrir o placar logo no início da partida. Uma grande vitória se desenhava no horizonte.

E o Palmeiras massacrou o time dos subterfúgios jurídicos. A pressão era tanta que era questão de tempo que saísse o segundo gol logo. Foi ai que, na metade do primeiro tempo, vimos uma jogada que até hoje ninguém acredita que aconteceu: Francis roubou a bola na intermediária e avançou, passou por três jogadores com a desenvoltura de um sabonete (desculpem o trocadilho) e tocou na saída do goleiro jurídico. Ao comemorar não sabia se ficava feliz ou estupefato, porque o que vimos não era comum. Golaço antológico que deixaria Diego Maradona orgulhoso. Foi o gol mais bonito que vi no Palestra Itália naquele ano, superando a patada atômica de Alceu contra o Paraná (2006, a revolta dos bagres). E isso porque tínhamos jogadores com técnica bem mais apurada e capazes de fazer o que ele fez, por isso tamanha surpresa.

Depois cozinhamos o jogo em banho-maria e só aumentamos o placar no segundo tempo, com Juninho Paulista. Outros destaques da partida eram o tal lateral Chiquinho (tinha alguma habilidade, mas teve vida curta por aqui, sendo preterido por Michael) e a entrada de Valdivia (então promessa) no segundo tempo, invertendo posições com Juninho Paulista.

Após esse jogo passamos a sonhar com Libertadores, mas novos empates e derrotas estúpidas levaram a demissão de Tite. Marcelo Vilar o substituiu e conseguiu deixar todo palestrino em estado de nervos, até que Picerni entrou, venceu duas partidas que foram suficientes para nos livrar do rebaixamento. Ano terrível. 

Francis sobreviveu ao facão do final de 2006 e integrou o elenco em 2007. Se em 2006 as deficiências dele não eram tão latentes (ou tinha gente mais pesada na mira), com Caio Millhouse no comando ele desandou a fazer partidas ruins, sobretudo no Paulista. Com as chegadas de Pierre, Martinez e Makelele, o sorridente volante foi relegado à última opção de volante do plantel. Só em 2008, com o pofexô Madureira no comando, que Francis saiu do Palmeiras em definitivo. 

O volante mais enervou do que acrescentou, mesmo estando longe de entrar no rol dos piores volantes da história (fez muito menos cagadas do que o volante gente boa). De qualquer jeito, guardo na memória com carinho o golaço que fez na noite de 23/08/2006, contra o time do tapetão. Foi um golaço daqueles que não se vê todo dia. 

Ele também teve seu dia de craque.
Foto: Globoesporte.com

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