O dia que vi o único gol do Armeration pelo Palmeiras

Ou, as histórias do Armero também envolvem muitos dias de chuva.

O carismático lateral esquerdo colombiano Pablo Armero está em estado de graça e não poderia ser diferente, afinal, marcar gol em uma Copa do Mundo é uma emoção diferente, um sentimento que poucos jogadores tem o privilégio. Ainda mais quando a Copa em questão é uma das mais empolgantes da história - definitivamente, a melhor que vi, pelo menos até o momento.

Ao mencionar o Armero, a torcida palmeirense e a imprensa rapidamente voltam a memória para uma cena: a insólita dança conhecida como "Armeration" (alusão ao bisonho hit de verão do ano de 2010 conhecido como "Rebolation") após o gol de empate no épico 4 x 3 que o Palmeiras aplicou no Santos do ascendente Neymar e o consolidado Robinho, na Vila Belmiro. Esse foi um dos raros jogos da péssima temporada de 2010 que lembramos com carinho. Também parecia que esse jogo seria o ponto de virada após a hecatombe sofrida ao final de 2009, mas ficou só na impressão mesmo.

Graças a esse gol do Armero na Copa, alguns amigos se empolgaram e disseram que ele foi queimado por aqui e outros se empolgaram ao ponto de pedir a volta dele de maneira séria. Eu discordo de todos eles, afinal, a minha memória da passagem dele por aqui não foi das melhores. De fato, a única coisa que diferencia ele de um Lúcio (o 3º melhor lateral do mundo) e o Leandro Bochecha, é o excesso de carisma. 

Armero desembarcou na Rua Turiassu em janeiro de 2009 substituindo Leandro, citado no parágrafo anterior. Fez uma boa estreia em uma terça chuvosa no Palestra Itália, contra o Marília (jogo que me lembrarei mais do Lenny desencantando após um ano na seca). Mesmo com um campo encharcado que era prejudicial para o jogo dele, a impressão inicial foi boa e não demorou para ele assumir a seis em definitivo e ser o lateral de confiança na Libertadores daquela temporada. Tinha a tendência de tomar as decisões erradas e muitas vezes saía com bola e tudo, mas ainda não comprometia a defesa com suas descidas kamikazes. 

Após a eliminação da Libertadores, o Palmeiras voltou todas as atenções para o Brasileirão e Armero não convencia de um jeito pleno, continuava irregular e matando diversos ataques. Até que em outro dia chuvoso, na décima rodada do Brasileiro, o Palmeiras enfrentou o Náutico, visando entrar no G4 e se manter no pelotão de frente (ao final da rodada, terminaríamos à dois pontos do então líder Atlético-MG). A tarde chuvosa, o frio de julho e a recém-eliminação da Libertadores espantou a torcida (menos de 8000 foram ao Jardim Suspenso), mas o Palmeiras fez uma ótima exibição.

O placar foi construído com muita facilidade. Mauricio Ramos fez o primeiro, Willians o segundo. O Nautico até diminuiu, mas no segundo tempo, Armero fez uma tabela com Diego Souza e acertou um petardo cruzado sem chances de defesa para o goleiro do Nautico. Um golaço solitário na carreira de Pablo Armero pelo Palmeiras - isso, claro, sem contar o pênalti anotado na disputa contra o Sport pela Libertadores. O guerreiro Pierre ainda fechou o placar naquela noite fria. Uma noite que me lembro como a do gol solitário de um lateral que nem foi tão bem assim por aqui, mas que definitivamente fez seu melhor jogo enquanto jogador do Palmeiras - talvez só o 4 x 3 contra o Santos chegue perto dessa partida.

Meu registro das arquibancadas molhadas e o placar final do gol solitário de Armero.

Para quem deseja ver o gol que ele fez, eis o link. Foi um gol solitário, mas não dá para negar que foi um golaço.

No segundo semestre, Armero naufragou com todo o time e suas descidas suicidas nos renderam diversos problemas defensivos que comprometeram o time pela esquerda. O ponto baixo foi no início de 2010, onde a confiança da torcida estava no fundo do poço e ele era o ponto fraco do time, entregando gols para o adversário, como no empate contra a Portuguesa, derrota para os gambás (essa, após quatro anos sem perder para eles) e o fatídico empate por 3 x 3 contra o Ituano em (outro) dia de chuva torrencial em um dos últimos jogos do Palestra. Um jogo fácil que se transformou em tragédia, vaias ostensivas e uma implosão total do resto de confiança da torcida.

Ele não foi bem em 2010, mas nos presenteou com essa dança sensacional em um jogo épico.
Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Armero ainda exorcizou seus demônios na Vila Belmiro com o "Armeration" em um dia em jogou de maneira fantástica, mas após esse jogo, não fez mais nada que merecesse menção (talvez o jogo contra o CAP pela Copa do Brasil no Palestra, mas só), continuando irregular e alternando bons ataques com decisões erradas. Após a Copa de 2010 e já com Felipão, ainda jogou mais algumas partidas após uma transferência frustrada, não agradou e saiu de vez para o futebol italiano, abrindo espaço para a promessa Gabriel Silva. Na época, não lamentamos a saída, embora sabíamos que ele era esforçado. Infelizmente, o que veio depois foi muito pior: Gabriel Silva foi de promessa para lata da casa, Rivaldo foi o pior lateral esquerdo da nossa história, Gerley foi terrível, Juninho é desnecessário falar e Fernandinho também não nos ajudou em absolutamente nada. Só agora, com William Matheus, que temos alguma curva de melhora.

Apesar de ter cornetado muito o Armero, tenho muito respeito por ele, afinal, em nenhum momento desrespeitou a camisa, pelo contrário, o choro no banco de reservas em um dérbi me fez respeitá-lo ainda mais. Mas não servia naquele momento, o jeito atabalhoado, somado com uma torcida furiosa (e com toda razão do mundo) só piorou as coisas. 

Ao lateral, desejo toda a felicidade do mundo nessa Copa e em sua carreira, que seja excelente na Itália e evolua em aspectos que não mostrou aqui. A Colômbia é uma das seleções que tenho muito carinho e torço para que o Armeration seja realizado mais vezes nesse torneio maravilhoso que é a Copa. Mas devo ser sincero, a passagem dele por aqui não foi suficiente para que tenha um clamor de "volta" ou de "injustiçado". Teve chances, mas fez parte de um período que queremos esquecer por completo. A vida segue para todos.

Por Marcus, que acha o Armero carismático, mas tem motivos para não querer a volta dele para o Palmeiras.

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