Já vai tarde, Kleina

Gilson Kleina não é mais o técnico do Palmeiras. Nunca deveria ter sido. Eu não o traria da Ponte Preta. Também não o demitira após o insucesso da missão de evitar a queda, pois não havia muito o que pudesse ser feito. 

No entanto, a partir de 2012, foram várias chances de se demitir o técnico: o episódio Mirassol, o episódio CAP, o episódio Ituano, o episódio Flamengo, e agora o Sampaio Corrêa. 

Os piores momentos de Kleina foram Atlético Paranaense e Flamengo. No caso de CAP, após uma vitória sofrida por 1x0, e sem tomar gol em casa, a classificação parecia encaminhada. Tudo bem que fomos prejudicados pela negociação - posteriormente frustrada - de Vilson poucas horas antes do jogo, mas a postura da equipe foi péssima. Um jogo inteiro sem chances de gol, acuados por um time mediano, que no segundo tempo fez 3x0 com uma facilidade inacreditável. Ali, começou a ficar claro que Kleina não sabia armar um time no ataque sem deixar a zaga toda exposta. À época, ele insistia com Márcio Araújo e sua limitadíssima capacidade de marcação como primeiro volante. O time sai para o ataque sem cobertura e tudo estoura na zaga. 

Mas a partida em que ficou mais clara a incompetência de GK foi no último domingo, contra o Flamengo. Ao observador menos atento, o primeiro tempo parecia promissor, o Palmeiras jogava bem, dominava a partida, estava o tempo todo no ataque e pouco era ameaçado (mesmo assim ainda tomou um gol). Mas, para quem observa também o adversário, era evidente que o sucesso do Palmeiras no primeiro tempo era fruto da escalação totalmente equivocada de Jayme de Almeida. Bastou uma alteração no intervalo para mudar totalmente o panorama do jogo, virar o placar em pouco mais de 10 minutos e deixar Kleina totalmente atônito, sem entender o que estava acontecendo e sem capacidade de reação. Não podemos nos dar ao luxo de ter um inútil desse naipe na beira do gramado. 



Foto: Sérgio Barzaghi/Gazeta Press


Contra o Sampaio Corrêa, o primeiro tempo foi mais um daqueles momentos vergonhosos. Não conseguimos sequer ameaçar um time fraquíssimo. A entrada de Diogo melhorou sensivelmente o desempenho do time, e o gol saiu até com facilidade. Aí, Kleina achou que o 1x0 estava bom. Tirou Henrique, um dos melhores do time e jogador de referência no ataque, para colocar em seu lugar ninguém menos do que Mazinho. Amigos, quem faz uma substituição dessas em um momento como esse não quer ganhar nada. É inexplicável. A virada do Sampaio, apesar de dolorosa, teve um efeito imediato: tornar insustentável a permanência de Kleina. 

O treinador não tem comando, não cobra os atletas, faz improvisações em posições em que há um especialista  em boas condições, ignora os atletas da base, pede jogadores de qualidade no mínimo discutível como Josimar, poucas vezes escalou Wesley em sua posição correta, nunca escalou Mendieta em sua posição correta, não consegue um equilíbrio entre ataque e defesa, alterna um esquema com 3 volantes com outro esquema com apenas um volante, permite que Josimar e Leandro andem em campo, totalmente desinteressados, escala um jogador notoriamente de bom passe e chutes de longe, mas sem velocidade, como um ponta-direita fixo (Bruno César), fazia Alan Kardec jogar de lateral-direito em várias ocasiões, acompanhando o lateral-esquerdo adversário até o fim, escalou Serginho em tantas posições diferentes que não há mais referência sobre a verdadeira posição de Serginho... Enfim, eram tantos erros, e tão claros, que não conseguimos entender como ele conseguiu completar 20 meses no comando do Palmeiras. Muito mais erros do que acertos. Vamos falar dos acertos: recuperou o bom futebol de Valdivia, achando um bom posicionamento para o chileno, conseguiu fazer Vinicius ser por algum tempo um dos destaques do time, sacando o atacante da posição de centroavante e deslocando para a ponta-esquerda, acreditou em Lucio, o que acabou sendo um acerto, e principalmente, criou um ambiente interno muito favorável, com um elenco unido e coeso. Ocorre que não há bom ambiente com seguidas derrotas, e esse seu grande trunfo foi minado pela própria incapacidade de fazer o time jogar um futebol minimamente aceitável. 

Durante boa parte do Campeonato Paulista, Kleina teve quase 100% do elenco à disposição. Sinceramente, é difícil enxergar hoje um time no Brasil que tenha quatro jogadores de meio-campo com a qualidade de Wesley, Valdivia, Bruno César e Mendieta. É complicado escalar os quatro juntos, mas o paraguaio pode ir para o banco e o meio-campo com os outros 3 seria melhor do Brasil, com a proteção de volantes e laterais. Mas Kleina se perdeu no melhor momento, Bruno César era sacrificado na ponta-direita, o rendimento não era nem perto do esperado, e simplesmente não deu certo por incompetência do técnico. 

O elenco do Palmeiras não é para brigar do meio da tabela pra baixo no Brasileiro. Obviamente, é muito difícil qualquer time sair da série B para brigar por título na A, e hoje a nossa realidade é que nós acabamos de voltar da B. Mas a capacidade do elenco está muito além de apenas tentar não cair. Temos jogadores de qualidade. A zaga é criticada, mas um dos zagueiros na verdade é volante, sendo que Wellington, que nunca comprometeu, tem condições de jogo e vinha sendo preterido pelo ex-técnico. Na esquerda, Juninho fez boas partidas no Paulista, William Matheus não foi muito bem testado ainda. Na direita, um lateral titular é necessário imediatamente. Para jogar de volante, temos Marcelo Oliveira que vinha muito bem antes de ser recuado para a zaga. Renato e Bruninho já mostraram qualidade. Wesley e Mendieta têm todos os atributos para voltarem às suas posições de origem (segundo volante), desde que tenhamos um treinador que COBRE deles o posicionamento adequado e um comprometimento com o time, coisa que Kleina nunca fez. O time precisa ser reforçado urgentemente na lateral-direita e ataque, nas demais posições podemos sim fazer boa campanha com o elenco atual. Não precisamos nos preocupar com rebaixamento, desde que o time seja bem escalado, bem posicionado, bem treinado. Em 20 meses, Kleina não conseguiu definir nem um batedor de faltas, reparem que a cada falta há uma discussão para definir quem bate. A determinação tem que vir do técnico, e fim!

Finalmente, como o próprio Kleina disse, o ciclo acabou. Devemos ser muito gratos ao Sampaio Corrêa, que nos proporcionou o golpe final em um técnico já nocauteado. A desconfiança vai diminuir, os técnicos adversários já sabem que não conseguirão dar um nó tático no Palmeiras com apenas uma alteração, como fez o técnico do Flamengo domingo. Ainda falta muito, mas esse foi o primeiro - e importantíssimo - passo para o Palmeiras finalmente voltar a ser Palmeiras. 

2 comentários

- E agora, Kleina ? O que você vai fazer da vida ?

- Continuo nas propagandas lá do Posto Ypiranga ?

- Mas, vai procurar outro time para treinar ?

- Ihhhh, não sei. Melhor perguntar lá no Posto Ypiranga.

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Ele que seja feliz nos Coritibas, Criciumas, CRB's da vida, que são times do tamanho certo pra ele.

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