Alex, um dos maiores de todos

Foto: Nelson Almeida/LANCE!Press

O poeta Charles Bukowski disse uma vez que “genial é a capacidade de dizer coisas profundas de maneira simples”. Como isso se encaixa no futebol ou mesmo no texto que vem a seguir? Substituindo a palavra “dizer” por “fazer” e lembrando Alexsandro de Souza, ou simplesmente Alex. Um dos maiores meias que vestiram a camisa alviverde. 

Alex chegou ao Palmeiras em 1997 com status de jovem revelação vinda do Coritiba e com a dura missão de substituir o mágico Djalminha, que encantava a todos com seu futebol genial e de toques inesperados, algo que conquistou a todos na épica conquista do Paulista de 96. O começo não foi tão impressionante, variava jogos excelentes com partidas infelizes que lhe renderam o infame apelido de Alexotan (se éramos corneteiros já nessa época...), mas de 1998 até a metade de 2000 ele se estabeleceu como um dos maiores meias da história do Palmeiras.

Impossível não relacionar a conquista da Libertadores da América de 1999 com o Alex, afinal, ele decidiu dois dos jogos mais difíceis da história do Palmeiras. Primeiro contra o então poderoso Vasco da Gama em São Januário, pelas oitavas de final e depois contra o fortíssimo River Plate no Palestra Itália, jogo que definitivamente não deve ser esquecido por ninguém, Alex fez uma das partidas mais primorosas que vi de um jogador vestindo a camisa do Palmeiras. 

A Libertadores não foi a única conquista de Alex com a camisa do Palmeiras. Vestindo a camisa alviverde, o meia levantou também uma Copa do Brasil (1998), uma Mercosul (1998) - com atuação decisiva contra o Olímpia - e um Rio-SP (2000). E poderia ter levado mais caso circunstâncias extra-campo não nos impedissem. O gol mal anulado que ele anotou no Mundial Interclubes contra o Manchester United dói até hoje.

Após pertencer ao esquadrão vitorioso que perdurou de 1997 a 2000, Alex saiu por um semestre, mas voltou em 2001. Com um elenco muito menos qualificado, ainda foi um dos esteios para que o time alcançasse às semifinais da Libertadores daquele ano, mas o juiz Ubaldo Aquino estava com o bisturi afiado, assim tolhendo o bicampeonato da América e uma nova chance de sermos bicampeões mundiais. Assim, saiu novamente e achávamos que não voltaria, mas após uma passagem apagada pelo Cruzeiro ele estava de volta ao Palmeiras ao início de 2002. O time era ainda menos qualificado, mas só não levamos o Rio-SP (então principal torneio do semestre) por causa de uma regra estapafúrdia que inventaram no meio do torneio na qual os cartões seriam decisivos como critério de desempate. Nessa terceira passagem, fica a memória do gol antológico contra o Jd. Leonor onde ele chapelou o zagueiro e o goleiro de hockey.

Muito se fala dele em jogos decisivos, mas minha memória também volta para os jogos pequenos e uma em particular se remete ao domingo de 19/05/1999, dia em que estava com meu pai no Palestra Itália. Era um dos meus primeiros jogos na arquibancada e o Palmeiras jogaria com um time misto contra a Inter de Limeira, pelo campeonato Paulista. O destaque do time misto nesse dia era o grande meia-armador Alex. Nesse dia ensolarado, o camisa 10 marcou 3 gols, tendo mais uma atuação de destaque e estabelecendo ainda mais seu status já forte de ídolo. Fora outros jogos menores (lembro de um golaço contra o Guarani em 2001 que foi realmente sensacional), mas que fizeram parte dessa trajetória vitoriosa de um dos maiores camisas 10 de todos os tempos.

Voltando a genialidade definida por Bukowski no primeiro parágrafo, podemos dizer que Alex nunca foi um meia que se caracterizou por dribles desconcertantes e jogadas inacreditáveis como Djalminha. A simplicidade e o refinamento dos toques, a inteligência de achar um passe na hora certa e a capacidade de decidir o jogo com um chute certeiro são suas marcas registradas. Ele é (no presente, porque ainda joga) um gênio que tem a capacidade de fazer coisas profundas de maneira simples, como se fosse uma mera brincadeira de criança, embora sempre se porte como um gigante. Como tanto queremos ver com a camisa do Palmeiras.

Alex foi o maior meia-armador que vi jogar, tanto pelo Palmeiras quanto de modo geral. Em sua passagem pelo Palmeiras, jogou 243 partidas e marcou 78 gols, sendo muitos deles decisivos e memoráveis. Marcas impressionantes para quem joga de meia-armador.

Essa é a minha homenagem ao nosso último ídolo em atividade, o último que lembra um período de glórias e altivez. Independente se ele escolheu terminar a carreira no Coritiba, ele merece toda idolatria e respeito pelo que desempenhou  e conquistou com a camisa do Palmeiras.

Em tempos onde há escassez de ídolos e jogadores fracos de espírito, devemos valorizar ao máximo quem ajudou a construir um Palmeiras vencedor. Eu não vi o Ademir da Guia, mas me orgulho de ter visto o Alex.

Obrigado por tudo gênio.

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