O Palmeiras por três corações diferentes

A temporada de 2013 foi uma das mais difíceis da história do Palmeiras, com muito mais baixos do que altos. Em meio ao sentimento de abandono no qual nos submeteram, nós torcedores tivemos que buscar forças jogo após jogo em meio ao horizonte negro desenhado ao início do ano. A nossa palestrinidade seria colocada à prova mais uma vez e de um jeito bem dolorido, assim como em 2003.

Diante desse cenário parei para observar o comportamento dos torcedores palmeirenses na arquibancada, desde o semblante que antecedia o prélio até as reações pós-jogo, na saída do estádio. Desde o primeiro jogo, contra o Bragantino, até o último, contra o Boa Esporte, ambos no estádio municipal.

Mas acima de tudo, fiz questão de enxergar esses momentos por outra ótica, guiada por três corações alviverdes diferentes. Desconhecidos, de qualquer um de nós que estávamos ali na arquibancada com o intuito de reerguer esse gigante chamado Palmeiras.

O abatido coração idoso
Era apenas mais um jogo da fase de classificação do Campeonato Paulista de 2013 em um final de janeiro chuvoso, em uma quinta-feira com o céu coberto por nuvens e com a constante ameaça de chuva.

Devido à má fase, somado com início de temporada sombrio, a chuva de verão que assolava São Paulo e o horário impraticável, o Pacaembu não estava cheio do jeito que esperávamos – apenas 5000 pessoas, com almas feridas, estavam na partida contra o São Bernardo. Nesse dia, estava na arquibancada com mais dois amigos e enquanto o jogo estava no intervalo, notamos um senhor de idade sentado em um lance de arquibancada. Ele estava sozinho. 

Não sabíamos que idade tinha tal senhor, mas certamente ele deve ter visto todos os tipos de times no Palmeiras em sua vida. Desde os elencos vitoriosos pertencentes às academias dos anos 60 e 70, passando pelos tempos de vacas magras dos anos 80, por uma nova fase gloriosa dos anos 90 e por um novo período turbulento nos anos 2000.

Imaginávamos também que em sua juventude ele ia aos jogos com seus amigos, mas que com o passar do tempo eles foram deixando as arquibancadas de lado. Nunca saberemos as razões pela qual o senhor de idade estava ali sozinho, poderia ser por qualquer coisa. Poderia ser por amigos idosos que se foram, familiares que não puderam estar ali por alguma razão. Não tinha como adivinhar.

Mas sabíamos que ele estava ali, sentado naquela arquibancada por uma forte razão: o amor indelével pelo Palmeiras. Só aquilo explicava um senhor de idade estar ali, sentado sozinho no concreto em meio a uma noite chuvosa. É uma paixão que transcende tempo e espaço, cujo coração pulsa por três gerações diferentes de torcedores alviverdes.

O valente coração adulto
Simultaneamente, confidenciamos o nosso medo de estar na mesma situação que estava o senhor: chegar a uma determinada idade e estarmos sozinhos nas arquibancadas. Ao mesmo tempo em que me sentia feliz ao ver o amor pelo Palmeiras desse senhor, me sentia triste ao vê-lo ali sozinho. Especialmente porque com o passar dos anos, vi muitos amigos de arquibancada deixar de frequentar os jogos. Meu próprio pai, meu primeiro companheiro de arquibancada e que vinha em quase todos os jogos comigo, passou a comparecer cada vez menos, especialmente depois do fechamento do Palestra Itália.

O jogo contra o São Bernardo passou e a temporada prosseguiu, mas continuei observando o movimento dos torcedores do Palmeiras ao longo da temporada. E observei em todos os lugares: no metrô, na caminhada rumo ao estádio municipal, nos arredores antes dos jogos e ao final de todas as partidas. 

Aos poucos, voltamos a estarmos numerosos na arquibancada, como deveria ser sempre. E isso levando em consideração dias e horários ridículos que a tabela submeteu e mesmo com a falta de perspectiva que tomou conta do time de Agosto em diante. Por vezes, o clima do Pacaembu lembrou um pouco do nosso velho Palestra Itália.

E nosso coração continuou sendo maltratado sem piedade nesse ano sombrio. Jogadores ruins, técnico absolutamente perdido e partidas vergonhosas que nem de longe lembram o Palmeiras deram a tônica de grande parte da temporada. 

Mas resistimos bravamente. Resistimos a esse sistema descabido e maçante de pontos corridos que fez com que o time apenas batesse cartão nesse campeonato maldito que foi a Série B, resistimos às intermináveis pilhérias de rivais, resistimos ao eterno desprezo e má vontade da mídia tradicional e resistimos até a nossa própria desesperança que por muitas vezes tomou conta de nós.

Mostramos a nossa força enquanto torcida pelo Brasil inteiro e provamos que não existe a expressão “grandes palestrinos”, porque cada um de nós mostramos que todo palestrino é um verdadeiro gigante pela própria natureza.

E também notamos um crescimento acentuado de crianças presentes nas partidas. Novos corações alviverdes que querem entender mais do que é o Palmeiras e que também querem ver o que queremos ver: um Palmeiras vencedor.

O esperançoso coração criança
E chegamos ao último jogo em casa de 2013, contra o Boa Esporte. Se nós, de coração adultos e calejados com tudo o que aconteceu não víamos razões para comemorar pelo o que acontecia em campo, uma coisa me deixou muito esperançoso: a esperança das crianças, dos novos corações palestrinos, que cantavam o hino do Palmeiras com vontade e estavam ávidos por ver um time vitorioso. Por eles e por todos os outros 17 milhões de corações que somos a torcida mais exigente do mundo. Podemos não ter a torcida mais numerosa, mas certamente temos a maior alma e o maior coração de todas. Por isso que um dos nossos cantos mais fortes exige que os jogadores façam o mesmo, quando cantamos “Tem que jogar com a alma e coração”, é porque realmente queremos isso.

Na saída da arquibancada respirei aliviado ao observar pais saindo com seus filhos pequenos. Passando a tocha sobre o que é ser palmeirense, sobre o prazer de ver o time em campo na arquibancada, seja lá qual jogo estivéssemos jogando, independente da situação vivida. 

Por fim, que esse senhor de idade que vimos sozinho na arquibancada no jogo contra o São Bernardo tenha uma certeza: a de que ele não está sozinho. Enquanto houver essa simbiose de corações alviverdes na arquibancada, ele sempre estará acompanhado. 

E dá-lhe alegria, alegria no coração!
Daria a vida inteira pra ser campeão.
A taça Libertadores é obsessão.
TEM QUE JOGAR COM A ALMA E O CORAÇÃO.
OLÊ OLÊ! OLÊ, OLÊ, EU CANTO, EU SOU PALMEIRAS ATÉ MORRER!





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