O Natal palestrino de 1998

O que você, palestrino, fazia no natal de 1998? Além das festividades (ou qualquer outro tipo de comemoração), havia uma expectativa fortíssima para que o Palmeiras conquistasse o título da Copa Mercosul daquela temporada.

O caminho palestrino até a final foi brilhante: seis vitórias na primeira fase, atropelamos o Boca Juniors pelas quartas de final, vencemos as duas partidas contra o Olímpia nas semifinais e iriamos jogar a final contra o maldito Cruzeiro, o mesmo time que vencemos a final da Copa do Brasil, mas que havia nos eliminado no Brasileiro nas semanas anteriores e de maneira dolorosa, com gol do Fabio Júnior nos últimos minutos do terceiro jogo do playoff.

O primeiro jogo da final aconteceu no Mineirão e nossa única derrota aconteceu lá – em 98 jogamos lá por quatro vezes e perdemos todas – e novamente de um jeito dolorido, com gol no final da partida, novamente de Fábio Júnior. Não era possível que, depois de uma campanha irrepreensível, iriamos cair diante das marias, não poderia acontecer novamente.

Na época eu ainda não havia debutado na arquibancada (algo que só aconteceria meses depois), mas acompanhei toda a campanha no SBT e com a narração do Silvio Luís na maioria dos jogos. E ao ver o Palestra Itália (pela TV) completamente lotado no dia 26/12 – data atípica para jogos – tive a certeza que éramos uma torcida realmente especial e que a vitória viria a todo custo. 

No banco tínhamos Felipão que, supersticioso como sempre, fez o time entrar completamente de branco porque os próprios cruzeirenses tinham declarado previamente que usar “branco dava sorte”. O bigode foi astuto ao usar o fator campo e as crendices como armas para desestabilizar o psicológico dos cruzeirenses. E como não poderíamos pensar sequer no empate, achamos que tudo era válido e embarcamos juntos nessa ideia. 

Precisávamos terminar o ano em alta e com um título, era o presente de natal que toda a torcida esperava. E o sábado de 26/12 era a data propícia para trazermos parte do presente – a outra viria na terça, dia 29/12. 

Nem mesmo o gol de Fabio Júnior, aos 2 minutos, tirou nossa fé. Na verdade, não demorou muito para o Palmeiras empatar o jogo, com Clebão, em cobrança de falta aos 8 minutos. 

O empate dava o título para o Cruzeiro e o restante do primeiro tempo foi apenas de pressão palmeirense. No intervalo havia certa apreensão, mas confiávamos no time. Sabíamos que Zinho, Alex, Arce, Oseas e Paulo Nunes eram capazes de alegrar o natal de 15 milhões de torcedores. E eles resolveram o jogo: Oseas aos 9 minutos, recebeu um passe de Paulo Nunes e virou a partida, assim levando a decisão para o terceiro jogo. Ao final da partida, o próprio Paulo Nunes marcou o terceiro gol em cobrança de escanteio cobrada por Arce e fomos completamente confiantes para o terceiro jogo, que aconteceria na terça, dia 29/12.

Paulo Nunes trouxe o presente da massa alviverde.
Foto: reprodução/baú do esporte.

A dois dias da virada do ano, o Palestra Itália novamente lotou. Dessa vez, o Cruzeiro entrou de branco e o Palmeiras entrou com o uniforme verde tradicional, mas depois da exibição natalina do dia 26, nada tirava da minha cabeça que aquele título seria nosso. Precisávamos de outra vitória para não ir para os pênaltis, afinal, o regulamento era tão tosco que o saldo de gols construído de nada valia.

O jogo derradeiro foi truncado e sem muitas chances, tudo indicava que seria decidido na bola parada. Tínhamos jogadores que na bola parada poderiam fazer toda a diferença do mundo: Junior Baiano, para arremates de longa distância com potência e Arce, um dos melhores jogadores que vi na bola parada – e também em cruzamentos com bola rolando. 

E foram os dois que decidiram o título. Aos 16 do segundo tempo, Junior Baiano disparou um foguete da entrada da área, Dida rebateu e ninguém acompanhou Arce, que pegou o rebote e apenas empurrou para dentro. O título era nosso!

O restante da partida seguiu de maneira truncada, sem ninguém ameaçar ninguém. Claro, o nervosismo continuou até o fim, mas sabíamos que ninguém estragaria nossas festividades. O título da Mercosul foi um dos melhores presentes de natal que a magnífica torcida do Palmeiras poderia ganhar. E foi uma prévia do que estava por vir no inesquecível ano de 1999.

Se hoje nosso natal é permeado por angústias e expectativas por reforços, nosso final de ano em 1998 foi muito mais saboroso. 

Feliz Natal para todos os palestrinos!

• Nota que os jogos aconteceram após o natal. E os estádios lotaram. Hoje, os jogadores pirracentos e mimados do “Bom Senso” (que grupo hipócrita!) jamais jogariam uma partida nessas datas;

• Saudades dessa época de constantes decisões. E morte aos pontos corridos;

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