Cartas na manga e mudança de postura.

Por ser início de temporada, talvez seja muito cedo para falar que hoje somos favoritos aos títulos, ainda mais se levarmos em consideração o histórico de largadas em anos anteriores, que definitivamente nos deixou mais escolados e cautelosos. Mas esse início de ano alviverde com seis vitórias consecutivas, quase todas de maneira convincente – especialmente no clássico contra o SPFC no último domingo - deu um novo ânimo para todos os palmeirenses do mundo, especialmente após temporadas tão ruins como foram as anteriores. 

Mas o que temos de diferente em relação ao time que finalizou a temporada de 2013 de maneira burocrática e que não se impunha em relação ao adversário? Novas cartas na manga dentro do elenco e que podem mudar o panorama de uma partida com diferentes variações táticas durante o jogo e uma nova postura, a mais agressiva desde o time do primeiro semestre de 2008, uma postura que não tínhamos visto com o então treinador Gilson Kleina. Isso sem contar a própria atmosfera do Palmeiras, que ficou positiva. Hoje até a mesmo a imprensa, uma inimiga ferrenha, passou a nos tratar com mais respeito.

Vamos aprofundar esses dois primeiros itens que fazem parte do tema central da postagem.

As cartas na manga:
Se durante a Série B perdíamos muito em qualidade com a ausência de jogadores no elenco, nesse início de ano vimos por mais de uma vez a solução de uma partida sair do banco de reservas. Contra o Atlético de Sorocaba e Penapolense, vimos a entrada de Marquinhos Gabriel ser decisiva para que o Palmeiras obtivesse os três pontos. Contra o XV de Piracicaba, o gol da vitória passou pelos pés de dois substitutos: Mendieta e França – sendo que este entrou para segurar a pressão do time da casa, obteve êxito na tarefa e ainda surgiu como elemento surpresa no ataque. 

Pela primeira vez em anos temos opções para realizar mudanças de panoramas na partida e mesmo mudar a escalação antes de um jogo antes que o time fique manjado pelo oponente. E ainda temos jogadores para estrear, como Victorino, Bruno Cesar, Gabriel Dias, Patrick Vieira, Rodolfo e mesmo William Matheus, que jogou apenas 20 minutos contra o Comercial. Josimar, volante que veio do Inter, é outro que chegou para ser opção de segundo volante na reserva de Wesley e apesar de parte da torcida ter um pé atrás com ele pela não vinda em 2013 (inclusive este que vos escreve), soa como um backup interessante.

A lateral direita ainda precisa de ajustes – por mais que Wendel tenha feito partidas acima da média, ainda temos o medo de que esse bom momento dele seja efêmero – e o ataque continua sem substitutos para Alan Kardec caso precisemos (a outra opção de atacante fixo no elenco se chama Miguel). 

Com essa nova gama de jogadores, as opções consideradas “intragáveis” que sobreviveram ao facão do ano passado e que ainda estão no elenco, já não são mais tão utilizadas. Felipe Menezes entrou em apenas duas partidas, Vinicius em apenas uma e Serginho perdeu espaço após duas partidas como titular. 

Vale também a observação que em nenhum desses momentos o Palmeiras entrou com força máxima, nem mesmo no clássico contra o SPFC. Mas mesmo que o Palmeiras use seu poder de fogo por completo em sua escalação titular, ainda é possível vislumbrar essas cartas na manga que são capazes de mudar a partida.

Mudança de postura:
O Palmeiras está mais agressivo, algo que cobrávamos antes mesmo do campeonato começar. Por mais que o time não tenha jogado com sua força máxima, é possível observar que a postura do time mudou e isso ficou acentuado em algumas partidas, como contra Penapolense e SPFC, onde o time fez algo que não fazia há anos: marcar a saída de bola do adversário, sufocando o oponente já no campo de defesa e tirando as chances de ataque e pegando o oponente com a defesa desarrumada.

Essa pressão no campo de ataque permite com que a dupla de volantes fique mais sólida (exceção feita ao jogo de quarta, onde Wesley dormiu em campo) e consequentemente a defesa não tome tantos sustos. Com isso, hoje temos a melhor defesa do campeonato com apenas três gols sofridos (sendo que dois deles foram da famosa síndrome de “ex-palmeirense marca contra”, embora isso não tenha relação alguma com táticas). 

Outro ponto importante está em como o time se porta com a bola nos pés. Hoje também é possível ver que o time evita as ligações diretas e trabalha melhor a bola, procurando sempre o companheiro melhor posicionado e priorizando as tabelas. Se antes tínhamos um irritante festival de chutões a esmo e chuveirinhos desnecessários que invariavelmente terminavam com o zagueiro rechaçando a bola, hoje isso foi reduzido a quase zero. 


Essa mudança de postura do time e a obediência tática dos jogadores são méritos de Gilson Kleina. Com exceção dos jogos contra Comercial (onde o time dormiu no segundo tempo) e XV de Piracicaba, o treinador foi muito bem na proposta do time e nas alterações durante a partida, sobretudo no último domingo ao trucar Muricy com um casal Zap e Copas – tomaram um baile e 2 x 0 ficou muito barato.

Já o critiquei muito durante 2013, mas nesses jogos iniciais ele vem fazendo por merecer uma trégua e até elogios. Sim, ele ainda insiste com peças que todos sabem que não funciona (Mazinho não mostra nada que o credencie a titularidade absoluta) e por vezes demora em realizar a alteração – quarta foi por pouco. Às vezes fico com a impressão de que ele está escondendo o jogo para os jogos mais difíceis, clássicos e fases decisivas. Não tem como saber, mas que esse início de ano com seis vitórias e com o time convencendo está animador, isso está.

Claro, ele ainda tem muito que provar. O próximo teste de fogo é um dérbi (jogo que não vencemos desde agosto de 2011) e por mais que a fase de nossos rivais esteja ruim, ainda é um jogo que devemos entrar com muita seriedade, ainda mais porque não os vencemos no Pacaembu há muito tempo. E tem também as fases decisivas – todas que ele disputou com o Palmeiras até o momento foram tremendos fiascos. Mas dessa vez ele tem peças bem melhores do que as disponíveis em jornadas anteriores e parece que ele está mais calculista, algo imprescindível para treinadores.

Kleina, a faca e o queijo estão em suas mãos. Começou bem e vem merecendo elogios, termine de maneira excelente e será eterno.

Kleinismo surtindo efeito?
Foto: Reginaldo Castro / Gazeta Press

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