Dérbis e a seriedade

Enfim, nosso próximo jogo será um dérbi. Palmeiras x Corinthians não é um jogo qualquer em nenhuma circunstância, é “apenas” a maior rivalidade futebolística do Brasil e uma das dez maiores rivalidades do futebol mundial. É capaz de parar a cidade (e o país, porque não?) com uma semana de antecedência e proporcionar embates históricos, daqueles que as pessoas se lembrarão com detalhes mesmo muitos anos após o ocorrido. 

Diferente do tratamento com nossos inimigos do SPFC, a relação com o Corinthians é mais de respeito mútuo (ainda que oculto), mesmo quanto há muita galhofa envolvida entre os torcedores de ambos os times. Pura rivalidade mesmo (caros leonores: nunca serão) e torcedores de outros times jamais entenderão o que isso significa, por mais que tentem e por mais que tenham suas próprias rivalidades. Inclusive, nossa rivalidade é tão forte que virou tema de filme com “O Casamento de Romeu e Julieta”, lançado em 2003 (filme esse que merece um texto a parte). 

Para muitos de nós, o período mais latente dessa rivalidade é a década de 90, onde muitas decisões entre os clubes foram realizadas. Melhor para nós, que vencemos o Paulistão de 93 e saímos da incomoda fila de 17 anos com um épico 4 x 0 em cima de nossos rivais, a final do Brasileiro de 1994 e, claro, os confrontos na Libertadores de 99 e 2000, onde São Marcos fez as atuações mais primorosas de sua gloriosa carreira. Claro, há muitos outros episódios marcantes ao longo de nossa história centenária, como os 8 x 0 que o Palestra Itália aplicou, a final do Paulista de 74 (o zum, zum, zum, é 21) e muitos outros momentos históricos. 

Apesar da primeira década dos anos 2000 ter sido ruim e escassa em decisões envolvendo dérbis, ainda tivemos partidas memoráveis, como os 4 x 0 em 2004 com show de Pedrinho e Vagner Love, os 3 x 0 em 2007 com atuações magistrais de Edmundo (a melhor na segunda passagem) e Valdivia (então em ascensão) e os 3 x 0 de 2009 com um jogo que Obina nunca mais fará na vida. 

E justamente por esse histórico todo que exigimos apenas uma coisa dos jogadores do Palmeiras: seriedade nos 90 minutos. Por mais que a fase do rival esteja ruim, em dérbis não há favoritos e a história mostra que a camisa pesa – para ambos os lados. Recentemente tivemos dois exemplos que não se vence dérbi antes da bola rolar: em fevereiro de 2011, após a eliminação do Tolima, entramos com a ideia de que seriamos o prego final do caixão dos rivais, mas perdemos um caminhão de gols e eles venceram a partida e iniciaram uma reação na temporada. No ano passado aconteceu o inverso, pois entramos com a moral no fundo do poço, com o elenco retalhado, rebaixados e só não vencemos o então campeão mundial e que estava com a moral nas nuvens por questão de detalhes, pois entramos com o espírito de dérbi e dominamos grande parte da partida. 

Claro que não dá para ignorar o momento atual de ambas as equipes, que hoje são bem distintos. A diferença técnica entre os jogadores existe e os padrões táticos desenvolvidos em rodadas anteriores também podem ser um diferencial.  Mas um momento de desatenção pode ser fatal e um resultado de dérbi define a moral de um time por semanas - e de um jeito bem 8 ou 80, para quem vence é o céu e para quem perde é o inferno. 

Gilson Kleina e jogadores, vocês começaram o ano de maneira convincente e vem merecendo os diversos elogios que todos nós estamos fazendo. Entrem para vencer o clássico, encarem esse dérbi como se fosse a última partida da vida de vocês e extraiam o melhor de vocês nesses 90 minutos. Estamos com vocês.

Avanti Palestra! 

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O palco da batalha.

- É uma pena que a torcida visitante (isso vale para ambos os lados) não fique no tobogã. Quando voltamos a disputar os dérbis no municipal em 2010, o tobogã era destinado para o rival, mas desde as semifinais do Paulista de 2011 que o visitante fica no setor de visitante. E provavelmente isso será definitivo, pois para a disputa do Brasileiro cada um disputará em suas respectivas casas.

- O último dérbi que vencemos foi no hoje longínquo ano de 2011, com gols de Luan e Fernandão. Foi também o último dérbi de São Marcos, que fechou a meta com maestria por diversas vezes contra nossos rivais – inclusive nessa partida, ao defender um chute perigoso de Liedson ao final do jogo, no canto do cisne de nosso santo goleiro. O período sem vitórias incomoda bastante.

- Que os jogadores não entrem na pilha dos tabus a serem derrubados e foquem apenas em vencer o jogo. O misticismo não pode ser levado em consideração no domingo, ainda mais quando hoje temos o próprio Pacaembu estabelecido como casa provisória e no qual os jogadores claramente se sentem a vontade. 

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