Arce, o melhor camisa 2 que vi.

Ídolo da lateral direita. Difícil superá-lo.
Foto: Getty Images.

Os mais antigos dizem que o melhor lateral direito que vestiu a nossa camisa foi o gigante Djalma Santos. Não duvido deles e os vídeos - somados com os inúmeros relatos - estão ai para provar isso. Mas dos laterais direitos que vi jogar (mais precisamente, de 1993 para cá), nenhum outro foi tão genial quanto o paraguaio Francisco Javier Arce Rolón, o Chiqui Arce ou simplesmente Arce, o melhor camisa 2 que vi não apenas no Palmeiras, mas no mundo do futebol como um todo. As principais características de Arce eram a precisão do cruzamento (tanto com bola rolando quanto parada) e as cobranças de faltas quase indefensáveis que aterrorizaram goleiros ao redor do globo. 

Quando desembarcou na Rua Turiassu, no início de 1998, Arce já tinha uma carreira vitoriosa pelo Cerro Porteño, Grêmio e já estava consolidado como titular da melhor safra defensiva da história da seleção paraguaia ao lado de Chilavert, Ayala, Gamarra e Rivarola (os dois últimos também tiveram passagens pelo Palmeiras, mas não passaram nem perto de ter o mesmo brilho). As nossas memórias prévias sobre o lateral eram dos embates épicos que tínhamos com o Grêmio em jornadas anteriores, quando o lateral era comandado pelo general Felipão no time gaúcho. Assim como Paulo Nunes, outro homem de confiança do bigode que chegou na mesma época, Arce não demorou para se encaixar no time titular e a partir daí fez história.

Considero que Arce teve dois períodos no Palmeiras. O primeiro foi com elencos estelares que venceu títulos que guardamos com extremo carinho e o segundo período foi um bem mais sombrio, onde o lateral era um dos raros sobreviventes dos períodos de glória e que fez parte de um time de transição que fez tudo errado enquanto elenco e que terminou de maneira trágica.

No primeiro período (de 1998 até a metade de 2000), Arce foi fundamental para que peças como Oseas, Paulo Nunes e outros jogadores hábeis na bola aérea funcionassem de maneira plena, com total fluidez. Os títulos com ele na lateral foram muitos e memoráveis: Copa do Brasil de 1998, Mercosul de 1998, Libertadores de 1999, Rio São Paulo de 2000 e Copa dos Campeões de 2000 (embora não tenha jogado esse por contusão, fazia parte do elenco). Podemos amplificar o título Copa Mercosul de 1998 como um dos momentos chaves para eternizá-lo de vez na galeria de ídolos palestrinos, já que Arce aproveitou um raro momento como centroavante e fez o gol no rebote da falta cobrada por Júnior Baiano

Passado os desmanches ao final de 1999, em que o elenco campeão da Libertadores ficou pela metade, e o segundo desmanche na metade de 2000, onde não havia sobrado mais quase ninguém, Arce era um dos poucos jogadores experientes no Palmeiras e liderou um time cheio de desconhecidos até a traumática final da Mercosul de 2000, titulo que perdemos da maneira mais inacreditável possível. Havia dúvidas se Arce permaneceria para a temporada seguinte. 

E permaneceu, mas só jogou a Libertadores a partir das oitavas de final devido ao contrato dele estar preso com a antiga patrocinadora. Com Alex de volta de maneira temporária e Marcos no gol, Arce ainda foi fundamental para chegarmos as semifinais da Libertadores de 2001, sobretudo no jogo de volta contra o Cruzeiro, onde marcou um gol e deu assistência para o Alexandre (aquele, o rebaixador) marcar de cabeça ao final da partida. Infelizmente, fomos fatiados por Ubaldo Aquino no jogo da Bombonera e nosso bicampeonato não veio. No Brasileiro do mesmo ano, apesar do time ter despencado da liderança para a metade da tabela, ainda foi considerado o melhor lateral do campeonato.

Ficou para 2002 junto com Alex, que retornou mais uma (e pela última) vez, e São Marcos, e eram as esperanças de que os títulos ainda recentes fossem repetidos. Comandados por Luxemburgo em sua pior passagem pelo Palmeiras, o time naufragou em todos os torneios disputados no primeiro semestre (embora a eliminação no Rio-SP eu considere injusta, já que o desempate foi o bizarro número de cartões, algo inédito). Em seu último semestre, Arce mudou de posição e foi para o meio de campo para jogar de armador ao lado de Zinho, outro ídolo repatriado, mas foi prejudicado por um elenco desinteressado e que até tinham bons nomes que fizeram sucesso em outros clubes, mas que terminou na segunda divisão. Arce, Zinho e Marcos, ídolos de conquistas memoráveis, definitivamente não mereciam isso. Mesmo com a campanha horrível, Arce ainda terminou como o artilheiro do time no campeonato, com 9 gols e outras assistências que adiaram a dor suprema naquele campeonato.

Arce só saiu na proximidade da estreia do Palmeiras no Campeonato Paulista de 2003, mas mesmo os últimos acontecimentos dele com a camisa alviverde não apaga a maravilhosa história que ele gravou em pedra por aqui. Os números finais são realmente impressionantes para um defensor que só teve um breve período atuando em posição mais avançada. Em 242 partidas disputadas em 4 anos que vestiu a camisa alviverde, marcou 57 gols e foi responsável por muitos outros tentos palestrinos com um arsenal expressivo de assistências. Sem contar que ainda levou o nome do Palmeiras para o mundo ao disputar duas Copas do Mundo pela seleção paraguaia enquanto vestia a camisa alviverde.

Até hoje, 12 anos após a sua saída, a lacuna deixada por Arce na lateral direita ainda não foi preenchida. Muitas tentativas foram feitas, mas nenhum jogador sequer passou perto da precisão e classe demonstrada pelo paraguaio. E creio que nunca encontraremos algum lateral que chegue perto disso, por melhor que seja - embora torcemos todos os dias para que apareça um novo Arce.

É um dos meus principais ídolos, responsável por muitas alegrias enquanto palmeirense e, sem sombra de dúvidas, um herói. Obrigado por tudo Arce, o melhor lateral direito que vi jogar em toda a história.

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