O dia que esquecemos os ingressos em casa

Por Marcus Vinicius.

Mesmo com toda a correria inerente a um trabalho de conclusão de curso, 2009 foi um ano em que compareci com alta frequência no bom e saudoso Palestra Itália. Em alguns jogos de meio de semana até faltei em algumas aulas para acompanhar o time, mas geralmente quando eu tinha certeza que o dia na faculdade não seria produtivo.  E não me arrependo nem um pouco dessas "faltas calculadas", a dedicação nas matérias foi a mesma e tudo deu certo no final – do curso, infelizmente não dos campeonatos disputados.

Felizmente, muitos dos jogos realizados no Palestra eram aos fins de semana e outros noturnos foram em feriados e vésperas. Independente se estava com muito cansaço físico e mental (especialmente porque eu não fazia ideia de como administrar meu tempo na época), estar na arquibancada era uma das poucas coisas (talvez a única) que não abria mão de maneira alguma. 

Um dos jogos dessa temporada que vale um relato foi contra o Grêmio Barueri, no sábado do dia 5 de setembro de 2009. A certeza era de que o Palestra estaria lotado, afinal, não apenas estávamos na liderança como esse jogo marcaria a reestreia do Vagner Love, atacante que começou por aqui em 2003, saiu em 2004 quando estava em seu auge e voltou cercado de expectativas como a peça que faltava para o restante da campanha do Brasileiro de 2009. Nesse dia fui com meu pai, que embora estivesse menos frequente do que em anos anteriores, ainda teve boa assiduidade nessa campanha. Como fizemos muitas vezes durante 2009 nas vezes que fomos juntos, nos planejamos para chegar mais cedo e tomar umas cervejas antes do jogo no saudoso Bar do Sílvio. Assim, almoçamos cedo e partimos para a região do Palestra para aguardar o jogo por lá. 

Meu ingresso eu havia conseguido na quinta anterior ao prélio, mas meu pai resolveu ir de última hora nesse dia e assim ele comprou o ingresso dele pela manhã do sábado, antes mesmo do almoço, assim encarando um trânsito inesperado na Marginal Tietê. Geralmente, antes de sairmos de casa temos o costume de checar se estamos levando todos os documentos necessários e os ingressos, mas como nunca comemos bola com esse tipo de coisa, havia uma confiança mútua de que isso não aconteceria jamais e o processo se tornou automático com o passar dos anos. 

Entretanto, foi justamente nesse dia que comemos bola. O jogo era as 18:30h, mas chegamos por lá umas 16h, cedo se pararmos para pensar que encaramos um trânsito caótico na Marginal Tietê naquele dia. Assim que estacionamos o carro eu me dei conta de que não havíamos checado se os ingressos estavam conosco antes de sair de casa. Quando vou sozinho obviamente checo tudo e como nesse caso ele comprou depois, confiei no histórico dele nunca ter esquecido os ingressos. 

Marcus: Esqueci de perguntar quando saímos, você pegou seu ingresso?

Pai do Marcus: Deixa eu ver... - Fiquei assustado com essa insegurança dele.

Marcus: Não me diga que você esqueceu seu ingresso em casa.

Pai do Marcus: É, acho que deixei na gaveta.

E ambos ficamos nervosos. Ele ainda mais, afinal, sempre fazia questão de checar se tudo está ok e não acreditava que tinha esquecido o ingresso dele na gaveta. Em tanto tempo de estádio, esse era um erro primário que jamais imaginaríamos cometer e como somos de outra região da cidade, não restava outra alternativa a não ser voltar tudo com certa pressa e tentar chegar ao Palestra novamente o mais rápido possível. Como o trânsito na Marginal estava pavoroso, utilizamos o plano B: minhocão e Radiais, que surpreendentemente estavam fluindo de maneira maravilhosa, contrariando nossas expectativas negativas. Ao chegarmos em casa, a cara de surpresa que fizeram quando chegamos foi impagável, como se fossem perguntar algo do tipo "aconteceu algum desastre ou algo do tipo?".

Naquela altura da tarde, a cerveja pré-jogo que tomaríamos no Bar do Sílvio estava completamente arruinada, restava apenas a torcida para que conseguíssemos vaga na rua onde costumávamos estacionar e que conseguíssemos chegar a tempo, mas a julgar pelo trajeto de volta para a casa pela via alternativa, a opção de retorno ao Palestra seria a mesma: Radiais, Minhocão e vamos que vamos. 

Apesar do trânsito que encaramos na reta de chegada ao Palestra, conseguimos estacionar praticamente no mesmo lugar e não demoramos a entrar no estádio. O alívio finalmente veio ao passar pela catraca e perceber que tínhamos algum tempo até nos alocarmos e até mesmo encontrar alguns amigos que também foram ao jogo. 

O jogo em si foi morno e dentro de campo não teve nada de tão memorável que mereça menção, a não ser talvez o gol de pênalti do Vagner Love, que estava voltando. O destaque desse dia mesmo foi a arquibancada, que tremeu como poucas vezes naquela temporada, parecia um dia de decisão. A vibração da torcida estava primorosa nesse dia e para mim foi ela que venceu a partida, tamanha energia positiva que passamos para campo. 

Terminamos a rodada na liderança mais uma vez e iriamos encarar uma série de pedreiras para ver se o time engrenaria de vez ou se começava a cambalear. Infelizmente, foi depois dos adversários mais difíceis que o desastre aconteceu e que até hoje lutamos para nos recuperar.

Nesse dia ele foi ovacionado. Claro, não tínhamos como prever o que viria depois...
Foto: globoesporte.com

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