A relação torcida-ídolos II

Em outubro do ano passado escrevi um texto ressaltando a importância dos ídolos no Palmeiras, mas que poderia se aplicar também aos outros clubes se não tivesse um foco específico em jogadores palestrinos. No texto em questão, a preocupação que os grandes ídolos e os jogadores decisivos estavam rareando cada vez mais, a ponto de quase desaparecerem por completo. 

No despertar da derrota acachapante do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo (algo que queiram ou não, afeta os clubes locais por extensão, desmoraliza até os clubes mais vencedores do país, inclusive o Palmeiras), devaneei e tentei entender um pouco mais das razões que levaram os jogadores brasileiros a fazerem uma Copa ruim e terminarem de maneira melancólica. Não é de hoje que faltam atletas com aquela fome de se consagrar, de ídolos que batam no peito, peçam a bola e resolvam. Em suma: faltam homens no futebol brasileiro.

Em meio aos devaneios, tentei achar um ponto de partida e me veio uma fala (quase um ensinamento) de Don Vito Corleone, o mafioso patriarca interpretado brilhantemente por Marlon Brando no filme "The Godfather" (1973), onde ele dizia que um homem precisa amar e respeitar a sua família acima de tudo. Não foi difícil traçar um paralelo com a relação entre jogadores e clubes (e sua torcida) e notar que hoje é difícil ver os jogadores criando laços com os clubes. Pior, a grande maioria dos jogadores não respeitam a camisa que vestem e agem como moleques em busca de interesses, muitas vezes tratando um time com história como trampolim. O que mais vemos nos dias atuais são jogadores medíocres agindo como primadonas e exigindo salários altíssimos por um futebol que eles não tem. 

Além dos jogadores fracos de espírito que desprezam os clubes, o próprio sistema do principal campeonato nacional fez questão de extinguir o surgimento de jogadores decisivos e heróis que estão acostumados com decisões. Considero o sistema de pontos corridos uma estaca no coração do futebol brasileiro, pois além de afastar a torcida e a emoção inerente as grandes decisões, deu privilégio ao futebol estéril, sem emoção alguma e que tem como mote uma "justiça" que inexiste. Para se ter ideia do poder de uma decisão de campeonato, a última final de Brasileiro que tivemos gerou jogadores que deitaram nos louros daquela decisão por quase uma década, como Elano, Robinho e Diego (ainda que o futuro provasse a mediocridade e a falta de decisão desses, muito porque eles eram moleques e não homens). 

E, claro, não houve uma transição decente de gerações. Se em 2002 era fácil identificar jogadores vencedores - a base do time que venceu o pentacampeonato era repleta de palmeirenses que venceram quase tudo nos anos 90 -, hoje você olha, olha e nada. Em 2002 o Brasil tinha justamente o que faltava nos parágrafos anteriores: jogadores acostumados com decisões, homens que respeitavam os clubes e eram identificados com suas torcidas. E a formação dessa nova geração passou por revelar jogadores covardes e fracos de espírito. Não há um meia que chame a responsabilidade e orquestre as jogadas e também não há atacantes com aquele faro de gol e aquela vontade de aniquilar o inimigo. 

Repito, faltam homens e jogadores acostumados com decisões. E a gravidade disso é enorme, basta olharmos para o nosso camisa 10 atual (Valdivia), que é o jogador que mais foge de jogos decisivos (fora o rebaixamento) e ainda assim possui uma legião de fãs que o defende com unhas e dentes - simplesmente porque não há meias com características similares no país. Por isso que nos apegávamos fortemente na torcida para a volta do Alex, último grande ídolo em atividade e que, mesmo com lesões, ainda fazia um campeonato decente, por isso superestimamos jogadores que possuem algum potencial para se tornar ídolo e nos decepcionamos (e tivemos muitos casos recentes). Tudo errado e ontem tudo isso fez sentido.

Mesmo eu (Marcus), que tinha uma postura neutra em relação a seleção brasileira (apenas assisti e ponto), me senti chocado com tal placar, porque afeta também o Palmeiras e nos faz refletir como chegamos a esse ponto. Que todos tenham a humildade de admitir que o Brasil há muito tempo não é o país do futebol (em quase todos os aspectos) e que recomeçar do zero é o melhor que se pode fazer. 

O exemplo máximo de ídolo: jogador homem, decisivo e que ama a camisa.

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