Bons jogos em campanhas ruins

Inaugurando a série "bons jogos dentro de campanhas ruins", começarei com um clássico: Palmeiras 3 x 1 Santos, no Paulista de 2005.

O ano de 2005 (assim como quase toda a década passada) não foi bom para o Palmeiras. No segundo semestre até tivemos um período efêmero no qual sonhamos com o título do Brasileirão, mas no fim tivemos que nos contentar com o "prêmio de consolação" que foi a vaga para a Libertadores - conquistada de maneira muito digna, diga-se de passagem. 

O primeiro semestre desse ano foi horrível. Passamos sufoco na Libertadores em um grupo fraquíssimo e sequer passamos perto de lutar pelo título Paulista. Três técnicos passaram pelo comando do Palmeiras, todos muito ruins: Estevam Soares, Candinho e Bonamigo. Para piorar, a fórmula do Paulistão dessa temporada era de pontos corridos, o que desestimulou a torcida de um jeito que poucas vezes tínhamos visto anteriormente. Já antes da metade do torneio, não raros, já era possível ver públicos que não passavam de 4 mil pessoas no Palestra - ainda nesse torneio tivemos o jogo Palmeiras 1 x 0 Barbarense com 1600 pagantes, o pior público que já vi no Palestra. É seguro dizer que esse foi o pior campeonato de todos no quesito "engajamento da torcida" e que pontos corridos é uma praga que deveria ser abolida de vez (esse texto excelente do Forza Palestra pega na veia).

Apesar de começarmos esse campeonato com 3 vitórias seguidas, sequer passamos perto de brigar pelo título e morremos na metade da tabela. Nem dava para culpar a torcida pela falta de ânimo.

Na metade do campeonato e na expectativa por mais uma volta de Pedrinho, iriamos encarar o Santos do badalado Robinho, colocado pela imprensa como amplo favorito para o confronto, algo que nem nós, cientes do elenco ruim que tínhamos, conseguimos discordar na época. Mesmo assim rumamos para o Palestra naquela tarde ensolarada de domingo, típica de um início de março, acreditando que poderíamos fazer algo diferente do que fazíamos até então. Era dia de jogar como Palmeiras.

E jogamos como Palmeiras. Não aquele que nos envergonhava naquela temporada, mas como o alviverde imponente que todos temiam.

Três nomes foram fundamentais para a vitória por 3 x 1: São Marcos, o que não é nenhuma surpresa; Pedrinho, que entrou no segundo tempo e foi o nome do jogo; e Lúcio (o quarto melhor lateral do mundo), esse sim, surpreendendo, afinal, foi o nome mais xingado nas arquibancadas durante a temporada anterior - um ódio um tanto quanto estranho, afinal, tinham jogadores piores do que ele naqueles elencos irritantes.

O primeiro tempo foi de São Marcos, que brilhou sozinho e aliviou a barra da defesa ruim composta por Glauber, Daniel e Nen, zagueiros que deixaram muitos espaços para Robinho e Deivid (que na época não era motivo de piada). Por conta do bombardeio litorâneo, ficamos até um tanto surpresos por irmos para o intervalo vencendo por 1 x 0, gol de Daniel ao final do primeiro tempo.

No intervalo meu pai comentou comigo que estávamos no lucro com aquela vitória parcial e que se a defesa continuasse desse jeito teríamos problemas. Não deu outra. Glauber, fez um pênalti idiota e Ricardinheirinho fez o gol de empate dos sardinhas. Nosso ânimo voltou ao modo standart daquela temporada. E São Marcos continuou nos salvando.

Eis que Candinho, em um raro arroubo de inteligência enquanto estava em nossa casamata, colocou Pedrinho em campo. O reizinho mal tinha entrado em campo e já em uma de suas primeiras jogadas recolocou o Palmeiras na frente. Com o placar ainda na contagem mínima tudo poderia acontecer, mas Lúcio fez um lançamento primoroso para o mesmo Pedrinho, que entrou na área e fuzilou o goleiro santista. 3 x 1 e fim de conversa.

Na hora, fizemos a mesma pergunta de sempre: "como seria se o Pedrinho não se machucasse tanto?". Tratava-se de um meia genial, capaz de decidir partidas com toques de classes e tinha tudo para se consolidar como um dos maiores camisas 10 da história do Palmeiras, mas padeceu com diversos problemas físicos que limitaram muito a presença dele em campo. E demonstrava ciência de seus problemas, afinal, chegou a pedir para não receber salários enquanto estava machucado. Talvez se vencêssemos o Paulista de 2004 ele teria um papel mais marcante em nossa história. 

Sobre o jogo em si, nos deu um curto ânimo para o jogo seguinte (vencemos o Táchira por 3 x 0 na Libertadores), mas não demorou muito e uma derrota para a Portuguesa nos devolveu a triste realidade daquela temporada maldita. 


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